sábado, 24 de setembro de 2011

LINKS ÚTEIS - HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL


Dois professores dialogando
Em português:
16. Book da Editora Mandruvá (artigos de História Medieval)
Em espanhol e catalão:
Em inglês:
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Em alemão:

domingo, 18 de setembro de 2011

CONSIDERAÇÕES SOBRE O RENASCIMENTO CAROLÍNGIO – RESENHA

 A síntese do texto que observamos é a clara intenção de Carlos Magno em conferir uma unidade interior, espiritual, a seu império e, portanto, educar intelectual, moral e religiosamente os povos bárbaros que o constituíam. Deste modo restauraria a civilização e a religião, a cultura clássica e o catolicismo e lhes daria incremento. Para tanto, adotou como meio natural eram as escolas, e o clero se apresentava como o mais apto e preparado docente, quer pelo seu caráter de mestre do povo, quer pela cultura de que era dotado. Na intenção de Carlos Magno, complexo devia ser o papel das escolas, que ele ia funda e desenvolve: formar, antes de tudo, mestres adequados para as escolas, isto é, um clero culto; educar, em seguida, a massa popular, seu escopo final; preparar uma classe dirigente em geral e, em especial, os funcionários do império. Havia nos mosteiros beneditinos escolas monásticas, surgidas da própria exigência de uma observância adequada da Regra de São Bento, Paulatinamente tal modelo espalhara-se também as escolas episcopais. As escolas monásticas dos mosteiros visavam, antes de tudo, a formação dos monges futuros (escolas internas), e, depois, a formação dos leigos cultos (escolas externas), proporcionando, ao mesmo tempo, o ensino religioso e os rudimentos das ciências profanas. O programa de ensino era, inicialmente, bastante elementar: leitura, aprender a escrever, canto orfeônico e um tanto de aritmética. Percebemos que Carlos Magno dá muito incremento a ambas as escolas – monásticas e episcopais e, ademais, fundará junto da corte imperial a assim chamada escola palatina, que pode ser considerada como a primeira universidade medieval. Menciona também como, com o correr do tempo, as escolas paroquiais, destinadas a ensinar ao povo os primeiros elementos do saber, vulgariza a escrita tornando mais fácil de ser compreendida e copiada.
Para elaborar o seu vasto plano de política escolar, chamou à corte Alcuíno, vindo da Inglaterra – que juntamente com a Irlanda - eram o viveiro da
cultura naquela época. E sob sua inspiração, foram emanados os decretos capitulares para a organização das escolas, enquanto o douto inglês ditava-lhes o programa relativo, que se espalhou pelo vasto império e perdurou, pode-se dizer, durante toda a Idade Média. Tal programa abraçava as sete artes liberais, repartidas no trívio e no quadrívio. O trívio das disciplinas formais: gramática, retórica, dialética, esta última desenvolvendo-se, mais tarde, na filosofia; o quadrívio abraçava as reais: aritmética, geometria, astronomia, música, e, mais tarde, a medicina. Sob a direção de Alcuíno, foi constituída junto da corte de Carlos Magno a escola palatina. Nela ensinaram os homens mais famosos da época, como, por exemplo, o historiador Paulo Diácono, o gramático Pedro de Pisa, o teólogo Paulino de Aquiléia. Freqüentavam estas escolas o próprio imperador, os príncipes e os jovens da nobreza. Outras escolas surgiram, em seguida, especialmente na França, modeladas na escola palatina.
Ao lado desta instrução e educação eclesiásticas, e embora o texto não faça referência também temos na Idade Média uma educação militar, ministrada por militares e a militares; a Igreja, bem cedo, imprimiu também a esta educação uma orientação ética, religiosa, católica. Como é sabido, o feudalismo é uma organização social, política, econômica, militar, inicialmente baseada na força, segundo o espírito dos bárbaros dominadores.
Há que se ponderar que, embora alguns renomados autores, pesquisados por estes dois que assinam o artigo, Maria Beatriz graduada em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Federal Fluminense e Alvaro Alfredo Professor Adjunto da Faculdade de Letras/UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em História Comparada/ UFRJ. façam críticas ao modelo de desenvolvimento adotado por Carlos Magno, qualificando-o como copista e não criador, este foi de fato o embrião do desenvolvimento educacional e formação das universidades.

BRAGANÇA JÚNIOR, Á. A. ; SANTOS, M. B. D. Considerações Renascimento Carolíngio. Encontro Regional da Abrem, 1, Rio de Janeiro ,... 247.
Maria Beatriz D. C. dos Santos
Álvaro Alfredo Bragança Júnior

terça-feira, 13 de setembro de 2011

FEUDALISMO - SUSERANIA E VASSALAGEM

A Dependência Pessoal



Com o objetivo de obter a centralização política e o apoio da nobreza nas guerras, CARLOS MAGNO incentivou e alterou o vínculo da vassalagem, comum entre os francos desde a época merovíngia. A doação do “benefício” (terra) em troca do juramento de fidelidade e serviços prestados ao rei passou a ser acompanhada do poder de “ban”, isto é, do direito de comandar, punir, aplicar a justiça e cobrar impostos sobre a população local, de forma que o beneficiado passava a assumir funções do rei em suas terras. O juramento vassálico passou a ser feito mais no interesse em obter a terra(feudo), do que na lealdade ao soberano. A posse da terra tornou-se o verdadeiro fundamento da relação entre o rei e seus vassalos.

A fusão da vassalagem com o benefício constituiu a base do sistema feudal e teve como conseqüência, o enfraquecimento do reino e do poder do rei. Os nobres mais importantes – duques, condes e marqueses – recebiam o feudo diretamente do rei, tornando-se seus vassalos diretos. Por sua vez, podiam repassar parte dele a outros nobres menores – viscondes, barões e cavaleiros – criando uma escala hierárquica de suserania e vassalagem que abrangia toda a aristocracia.

Homenagem e Investidura
A prestação da vassalagem era feita através de uma cerimônia denominada “homenagem”, na qual o futuro vassalo se ajoelhava diante do senhor ou suserano, colocando suas mãos unidas entre as dele e tornando-se, por este ato, seu servidor fiel. Seguia-se o juramento de fidelidade, feito sobre a Bíblia ou uma relíquia sagrada, selada por um beijo entre as partes. A “investidura” era o ato pelo qual o suserano entregava ao vassalo um punhado de terra, folhas, etc., simbolizando o feudo. A quebra do juramento de fidelidade implicava na perda do benefício.

“Aos sete dos idos de abril, quinta-feira, as homenagens foram rendidas ao conde; e isto foi realizado segundo as formas determinadas para emprestar fé e fidelidade na ordem seguinte. Em primeiro lugar, fizeram homenagem desta maneira: o conde perguntou ao futuro vassalo se queria tornar-se seu homem sem reservas e este respondeu: “Eu o quero”; estando então suas mãos apertadas nas mãos do conde, eles se uniram por um beijo.

Em segundo lugar, aquele que havia feito homenagem hipotecou sua fé no porta voz do conde, nestes termos: “Eu prometo em minha fé ser fiel ao conde Guilherme e de lhe guardar contra todos inteiramente minha homenagem, de boa fé e sem engano”; em terceiro lugar, ele jurou isso sobre as relíquias dos santos. Em seguinda, com o bastão que tinha à mão, o conde lhes deu a investidura, a elea todos que vinham de lhe fazer homenagem, de lhe prometer fidelidade, e também de lhe prestar juramento.” (GALBERT DE BRUGES, Histoire du meurtre de Charles le bom conte de Flandre”. Citado por PINSKY, J. (org.) Modo de produção feudal. São Paulo, Global, 1982, p. 64.)

A FRAGMENTAÇÃO DO PODER

O Império Carolíngio estava dividido em torno de 250 condados, territórios administrados pelos condes, representantes e vassalos diretos do rei, responsáveis pela aplicação da justiça, pela arrecadação das taxas e pela manutenção da ordem. O conde podia nomear auxiliares – os viscondes – que exerciam o poder na sua ausência.

Os territórios localizados nas fronteiras eram denominados marcas e seus titulares – os marqueses – gozavam de autoridade civil e militar. Existiam ainda os reinos e os ducados, áreas tradicionalmente independente, anexadas ao Império nas últimas campanhas de Carlos Magno e com tendências saparatistas. Seus titulares, os príncipes e os duques, tinham bastante autonomia local, mas deviam fidelidade e tributos ao soberano carolíngio. A Frísia, o Saxe, a Baviera eram reinos e a Lombardia, a Bretanha e a Gasconha eram ducados.

Carlos Magno morreu em 814. Foi sucedido por seu filho Luís, o Piedoso, que governou até 840, tendendo mais para uma postura cristã e para manter a paz e a justiça. Com isso, as guerras de conquista diminuíram, assim como os lucros obtidos com as pilhagens, de forma que o rei tinha que remunerar os vassalos com suas próprias terras, base de seu poder, enfraquecendo a monarquia. Após a morte de Luís, seguiu-se um período de lutas sucessórias entre seus três herdeiros, pois os francos desconheciam o principio da primogenitura. Em 843, sob a inspiração da Igreja, foi feito o Tratato de Verdun, que deu origem a três reinos: Lotário I recebeu a Lotaríngia (Países Baixo, Suiça e norte da Itália); Luís, o Germânico ficou com a Germânia(parte oriental) e Carlos II com a França.

No final do século X havia na França cerca de 50 divisões políticas, destacando-se os condados e ducados de Flandres, da Normandia, da Aquitânia, de Toulouse, da Ile-de-France, de onde se originaram os reis Capetos, dinastia que governou a França de 987 a 1328.

Na Germânia (Alemanha), a dinastia carolíngia extinguiu-se em 911. Otão I, da Saxônia, foi eleito rei pelos seus pares, apoiado pelo Papa. Renascia o Império Franco, que resultava da reunião da Itália, da Alemanha e da Borgonha, passando a se chamar Sacro Império Romano Germânico. Entretanto, o poder do rei era fraco em todas as três regiões, devido ao poderio militar dos nobres em seus principados e ducados e à influência da Igreja.

A monarquia carolíngia, ao esforçar-se para conseguir a centralização política, chegou a um resultado oposto, parcelando o poder dos reis, processo acelerado pelas invasões de vikings, muçulmanos e húngaros ocorridas na Europa, nos séculos IX e X. Na prática, o monarca transformou-se em suserano de seus vassalos, aos quais estava muito unido por laços de fidelidade, em troca de terras e privilégios políticos. A ligação entre benefício e vassalagem se tornou tão forte, que os nobres obedeciam ao rei, não por serem súditos, mas por serem vassalos beneficiados com a posse do feudo.

AS INVASÕES DE MULÇUMANOS, VIKINGS E HÚNGAROS


A Europa Ocidental enfrentou nova onde invasões nos séculos IX e X, o que contribuiu para reforçar a ruralização e diminuir ainda mais o poder dos monarcas carolíngios, cujo Império, a partir do século X, não existia mais.

Os habitantes do litoral e das ilhas do Mar Mediterrâneo e os navios que por aí circulavam se tornaram alvo dos constantes atos de pirataria dos árabes muçulmanos que, provenientes do norte da África, haviam se fixado na Espanha desde 711. Conquistaram a Córsega e a Sicília e pilharam os principais centros italianos durante todo o século IX como Palermo, Messina, Siracusa, Roma, Florença.

Vindos da Escandinávia, ao norte, chegaram os vikings ou normandos, irrompendo nas costas da Inglaterra, da Irlanda, da França e da Espanha. Também durante o século IX, pilharam ricas abadias e cidades como Ruen, Nantes, Hamburgo, Paris, chegando até Lisboa e Sevilha. Hábeis navegantes, com seus barcos velozes passavam do mar para os rios menos profundos, explorando ao máximo as vias fluviais.

A PIRATARIA NORMANDA

“Anos de 852-862 – O número dos navios aumenta. A multidão dos Normandos não deixa de crescer; por toda a parte os cristãos são vítimas de massacres, pilhgens, devastações, incêndios cujos testemunhos subsistirão enquanto durar o mundo. Tomam todas as cidades que atravessam sem que alguém lhes resista; tomaram as de Bordéus, Périgueux, Limoges, Angoulême e Tolosa. Tours, Angers, como Orleans são destruídas; muitas cinzas de santos são roubadas. Assim se realiza, pouco mais ou menos, a ameaça que o Senhor proferiu pela boca do seu profeta: “Um flagelo vindo do norte se espraiará sobre os habitantes da terra.” Alguns anos depois, um número incalculável de navios normandos sobe o rio Sena. O mal aumenta nessa região. A cidade de Ruão é invadida, pilhada, incendiada; as de Paris, Beauvais e Meaux são tomadas; a praça forte de Melun é devastada; Chartres é ocupada; Evreux é pilhada, assim como Baveux e todas as outras cidades são invadidas sucessivamente. Quase não há localidade ou mosteiro que seja respeitado, todos os habitantes fogem e raros são os que ousan dizer: “Restai, restai, lutai pelo vosso país, pelos vossos filhos, pela vossa família!” (FREITAS, p.134)

A Europa cristã foi também saqueada pelos húngaros, que vindos do leste, como os hunos, a partir de 899 atacaram as regiões da Germânia, da França, do norte da Itália, tendo sido finalmente derrotados pelo rei Ótão, da Saxônia (na Germânia).

Os invasores buscavam ouro, prata e jóais, entesourados principalmente nos mosteiros e nas igrejas. O resgate de prisioneiros era também uma forma de obter riqueza. Os senhorios e as aldeias perderam parte de seus camponeses, levados como escravos. Muitos servos, fugindo dos ataques, estabeleceram-se em outros domínios, ao serviço de novos senhores que os explorassem menos.

A defesa da Europa coube aos nobres guerreiros que com suas armaduras e espadas defendiam propriedades e camponeses. Surgiram fortificações em torno das aldeias, dos mosteiros e dos castelos. No decorrer do século X, a Europa contava com uma eficiente rede de castelos fortificados. Tolhido o ímpeto dos invasores, sedentarizados e convertidos ao cristianismo, normandos e húngaros passaram ajudar os antigos inimigos a se defenderem dos muçulmanos no Mediterrâneo e dos mongóis a leste dos Bálcãs.

IDADE MÉDIA E FEUDALISMO - UM BREVE RESUMO

Na Idade Média prevaleciam as relações de vassalagem e suserania. O vassalo recebia do suserano um lote de terra e em troca devia ao senhor fidelidade e trabalho. Estas redes de vassalagem se estendia a todos e chegava ao rei – que era tido como um vassalo de Deus.

A sociedade era estática e hierarquizada tendo em seu topo o clero (membros da Igreja católica) e a Nobreza (senhores feudais, cavaleiros, condes, duques e viscondes). A nobreza era detentora das terras e arrecadava impostos dos camponeses.

Nessa época o cavaleiro é o detentor dos instrumentos necessários para vencer o combate, graças à superioridade do cavalo, da armadura e das armas. Ele chega esta condição através de um rito, a sagração momento no qual após ter atingido sua educação militar e através de uma cerimônia, ascendia a posição de defensor da paz. Na França este grupo rapidamente se tornou hereditário ao receber feudos em troca dos serviços prestados, ocorrendo ali uma fusão entre cavalaria e nobreza.

Uma parte dos nobres, principalmente os não-primogênitos tornam-se cavaleiros sem fortuna girando ao redor de um grande senhor e prontos para aventurarem-se em guerras privadas, daí os estímulos externos das Cruzadas para controlá-los. Como não havia terras para todos, uma parte da nobreza passou a voltar-se para saques e guerras privadas.

Tentando solucionar este problema, a Igreja buscou estipular normas a serem adotadas pelos cavaleiros. Pela Paz de Deus (fins do século X), eles deveriam respeitar os camponeses, os clérigos, mercadores e os seus bens e pela Trégua de Deus (século XI) se absteriam de lutar entre a quinta à tarde e a segunda-feira pela manhã. A Igreja tentou também transformar o cavaleiro num miliciano de Deus, um defensor dos pobres, viúvas e do clero.

O cavaleiro que fosse para a Cruzada recebia da Igreja o perdão por seus pecados. Para São Bernardo, o modelo de perfeição era o monge-cavaleiro e por isto ele deu grande apoio ao surgimento das Ordens Militares, como a dos Templários.


IGREJA CATÓLICA E SUA INFLUÊNCIA NA EUROPA MEDIEVAL

Durante a maior parte da Idade Média, a Igreja permaneceu como a instituição mais organizada e estável da Europa. Os Estados “bárbaros” constituíam-se e desapareceram sucessivamente, em virtude de guerras internas e invasões. A Igreja, ao contrário, centralizou sua administração em Roma, enquanto fazia crescer seu patrimônio e seu poder econômico por meio de doações, esmolas e isenção de impostos. No século XI foi implantado o celibato obrigatório (proibição do casamento) a todo o clero, o que impedia o surgimento de herdeiros que reivindicassem bens da Igreja. Como as leis da época não garantiam a filhos ilegítimos nenhum direito à herança, o patrimônio eclesiástico se mantinha fora do alcance dos que nascessem da quebra da castidade clerical.

Não deve causar surpresa, portanto, o fato de a Igreja ter se tornado o maior proprietário rural da Europa medieval. E, se lembrarmos a importância da propriedade da terra no mundo feudal, não é difícil presumir a influência que isso proporcionava à instituição.

A Igreja sempre se empenhou na evangelização – constante divulgação de sua doutrina -, buscando sobre tudo novas conversões entre os povos pagãos (aqueles que não foram batizados).

Graças a sua influência, a Igreja chegou a ditar até regras para a economia, como a proibição da usura e da especulação. Ela impôs também o “justo preço”: todo produto deveria ser vendido a um preço que cobrisse apenas seu custo e o trabalho do produtor; tal preço seria calculado pelo Estado e pelas associações de artesãos e mercadores.

No ensino, a Igreja se tornou responsável pelas escolas – onde estudavam os filhos da nobreza e os futuros clérigos. Os estudos, sempre dirigidos por padres ou monges, se dividiam em dois níveis: o elementar (alfabetização e aritmética básica) e o superior. Este era subdividido em duas áreas: trivium (gramática, lógica e retórica) e quadrivium (música, geometria, astronomia e aritmética).

A partir do século XIII, a Igreja organizou as universidades, que, embora sujeitas a papas e reis, ganharam autonomia, e ainda na Idade Média passaram a admitir cada vez mais leigos entre seus professores. As universidades de Sorbonne (Paris), Bolonha, Salamanca, Oxford, Cambridge, Salerno, Roma, Montpellier, entre outras, surgiram durante o período medieval.

Vários aspectos da vida social na Idade Média foram igualmente regulados pela Igreja: casamentos, divórcios (por incesto, bigamia, adultério, etc.), divisão de heranças, definição das obrigações dos casais, registros paroquiais de nascimento (com o batismo), matrimônios, falecimentos, entre outros. Pertenciam à Igreja – que possuía recursos financeiros para isso – vários orfanatos, hospitais, asilos para loucos e hansenianos.

No que se refere à política, a Igreja passou a legitimar o poder de reis e imperadores – o que era simbolizado na coroação e na unção deles pelo papa -, criando até mesmo teorias para explicá-lo. Entre essas a mais difundida foi a dos “dois gládios” (gládio quer dizer espada), desenvolvida sobretudo no pontificado de Gregório VII (1073-1085). Segundo ela, o poder dos reis (gládio temporal) governava os corpos, enquanto o poder do papa (gládio espiritual) governava as almas. Ora, pela doutrina cristã, a alma era mais importante do que o corpo, logo o poder da Igreja era superior aos soberanos. Estes estavam sujeitos ao julgamento do sumo pontífice, exatamente por serem inferiores a ele.

Não é fácil imaginar o que a excomunhão – ou seja, a expulsão da Igreja, decretada apenas pelo papa, poderia significar na sociedade medieval, onde ser cristão representava o único meio de garantir algum direito. Frequentemente os papas usaram a excomunhão como arma política contra reis e imperadores, com o fim de submetê-los e desacreditá-los diante de seus súditos. Afinal, nenhum vassalo tinha a obrigação de obedecer a um soberano excomungado.



A IGREJA E A USURA

O historiador francês Jacques Le Goff consultou um manuscrito do século XIII, na biblioteca nacional de Paris, que expõe com clareza como os clérigos opunham-se à usura, isto é, ao empréstimo a juros:

"Os usurários pecam contra a natureza querendo fazer dinheiro gerar dinheiro, como cavalo com cavalo ou mulo com mulo. Além disso, os usurários são ladrões (latrones), pois vendem o tempo, que não lhes pertence, e vender um bem alheio, contra a vontade do possuidor, é um roubo. Ademais, como nada vendem a não ser a espera do dinheiro, isto é, o tempo, vendem os dias e as noites. Mas o dia é o tempo da claridade e a noite o tempo do repouso. Portanto, não é justo que tenham a luz e o repouso eternos”. (Citado em Jacques Le Goff, A bolsa e a vida: a usura na Idade Média, p. 40-1).


A IMPORTÂNCIA DA CONFISSÃO

De coletiva e pública, excepcional e reservada aos pecados mais graves, a confissão se torna aurilar, da boca para o ouvido, individual e particular, universal e relativamente freqüente. O IV Concilio de Latrão (1215) marca uma grande data. Torna obrigatória a todos os cristãos – isto é, homens e mulheres – a confissão, ao menos uma vez por ano, durante a Páscoa. O penitente é obrigado a explicar seu pecado em função de sua situação familiar, social, profissional, das circunstancias e de sua motivação. [...] O penitente deve se interrogar sobre a própria conduta e suas intenções, entregar-se a um exame de consciência. [...] É o começo da modernidade psicológica. O confessor deverá fazer perguntas convenientes que o levem a conhecer seu penitente, a separar, de seu lote de pecados, os graves, mortais sem contrição nem penitencia, e os mais leves, os veniais que podem ser redimidos. Os pecadores que morrem em estado de pecado mortal irão para o lugar tradicional da morte, do castigo eterno, o Inferno. Os que morrerem carregados apenas com pecados veniais passarão um tempo mais ou menos longo de expiação num lugar novo, o Purgatório, que irão deixar depois de purificados, purgados, em troca de vida eterna, o Paraíso, o mais tardar no momento do Juízo Final. (Jacques Le Goff, A bolsa e a vida: a usura na Idade Média, p. 11-2).


AS MULHERES E A IDADE MÉDIA

É difícil sustentar a hipótese de uma marginalização generalizada da mulher na Idade Média. O casamento, tornando-se responsável pela reprodução biológica da família, garantia-lhe papel de relevo na estabilidade da ordem social. Esta integração tinha, contudo, os seus limites. Juridicamente despersonalizada, esteve reduzida ao meio familiar e domestico. Reproduzia biologicamente os homens que iriam continuar a dirigir a sociedade.

As mulheres desempenharam funções importantes na sociedade medieval. As camponesas auxiliam suas famílias nas tarefas agrícolas cotidianas, enquanto as pertencentes às famílias nobres se encarregavam da tecelagem e da organização da casa, orientando o trabalho das servas. Muitas eram artesãs: nos grandes feudos da Alta Idade Média existiam oficinas de produtos como pentes, cosméticos, sabão e vestuário com mão-de-obra inteiramente feminina. Mas todas elas, desde as servas até as mulheres da alta nobreza, estavam submetidas a seus pais e maridos. E a Igreja justificava e favorecia tal dominação, mostrando-se totalmente hostil ao sexo feminino. Alguns teólogos chegavam a afirmar que a mulher era a maior prova da existência do diabo.


ECONOMIA

A economia feudal possuía base agrária, ou seja, a agricultura era a atividade responsável por gerar a riqueza social naquele momento. Ao mesmo tempo, outras atividades se desenvolviam, em menor escala, no sentido de complementar a primeira e suprir necessidades básicas e imediata.


POVOADOS

Os primeiros povoados medievais estabeleceram-se em terras pertencentes a senhores feudais. Costumavam ser rodeados por duas ou três glebas, grandes extensões de terras aráveis, também chamadas de reservas servis. Nos povoados, moravam artesãos, pequenos comerciantes e alguns camponeses. Todos eram obrigados a pagar impostos ao senhor.

domingo, 11 de setembro de 2011

A periodização do desenvolvimento psicológico individual na perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigostski

RESUMO
Este estudo se propõe a analisar algumas contribuições da psicologia de Leontiev, Elkonin e Vigotski no campo da psicologia do desenvolvimento, mais especificamente a questão da periodização da ontogênese humana. Leontiev e Elkonin, seguindo a linha sócio-histórica ou histórico-cultural iniciada por Vigotski, desenvolveram as bases de uma psicologia do desenvolvimento que superasse o enfoque naturalizante tão forte nesse campo. Segundo eles cada período do desenvolvimento individual humano é caracterizado por uma atividade principal, ou atividade dominante, a partir da qual se estruturam as relações do indivíduo com a realidade social. São analisados também os períodos que Leontiev e Elkonin detectaram no desenvolvimento dos indivíduos nas condições sociais da USSR.
 
Este estudo se propõe a apresentar alguns aspectos relacionados à periodização do desenvolvimento humano na abordagem histórico-cultural ou sócio-histórica. Nossa formação em psicologia, a atuação no contexto educacional e, principalmente, os estudos que vimos desenvolvendo dos trabalhos de L. S. Vigotski1 nos têm conduzido à compreensão do psiquismo humano para além de explicações baseadas em modelos mecanicistas ou modelos organicistas de desenvolvimento, utilizando uma classificação de Palácius (1995).

A psicologia histórico-cultural teve início com as obras de Vigotski (1896-1934). Este pesquisador desenvolveu seu trabalho com base marxista e era "radical", por querer ir à raiz de todos os problemas e por se manter fiel a um método de compreensão do psiquismo humano. Concordamos com Tuleski (2002) e com Duarte (1996, 2000) quando afirmam que é necessário manter essa filiação teórica da psicologia histórico-cultural, a qual tem uma visão historicizadora do psiquismo humano.

De acordo com Shuare (1990), os fundamentos marxistas enfatizam que mudanças históricas na sociedade e na vida material produzem mudanças na consciência e no comportamento humano. Existe um desenvolvimento histórico dos fenômenos psíquicos e estes mantêm uma relação de dependência essencial com respeito à vida e à atividade social. Para essa autora, a história da psique humana é a história da sua construção, portanto a psique não é imutável ou invariável no decorrer do desenvolvimento histórico.

Nessa perspectiva, o traço fundamental do psiquismo humano é que este se desenvolve por meio da atividade social, a qual, por sua vez, tem como traço principal a mediação por meio de instrumentos que se interpõem entre o sujeito e o objeto de sua atividade. As funções psicológicas superiores (tipicamente humanas, tais como a atenção voluntária, memória, abstração, comportamento intencional etc.) são produtos da atividade cerebral, têm uma base biológica, mas, fundamentalmente, são resultados da interação do indivíduo com o mundo, interação mediada pelos objetos construídos pelos seres humanos.

A constituição dessas funções é caracterizada pela mediação por intermédio dos signos, sendo que a linguagem é o sistema de signos mais importante. As formas superiores de comportamento formaram-se graças ao desenvolvimento histórico da humanidade e originam-se na coletividade em forma de relações entre os homens, e só depois se convertem em funções psíquicas da personalidade. Davidov & Shuare (1987) esclarecem que no desenvolvimento psíquico do homem há primazia do princípio social sobre o princípio natural-biológico. Para esses autores, o desenvolvimento ontogenético da psique é determinado pelos processos de apropriação das formas históricas e sociais da cultura.

Essas idéias são fundamentais quando se busca compreender a formação do psiquismo humano numa perspectiva historicizadora. Leontiev e Elkonin, neste sentido, conforme Duarte (1996), lançam instigantes questões a serem discutidas e investigadas na direção da construção de uma psicologia do desenvolvimento efetivamente histórico-social. Esses aspectos constituem a base da discussão neste trabalho.

As atividades principais no desenvolvimento humano

É necessário superar a visão idealista do desenvolvimento psicológico. Como Vigotski afirmou nos anos de 1930, é imprescindível estudar a afetividade e o intelecto como unidade e não é mais pertinente abordar o desenvolvimento psíquico como um mecanismo adaptativo do comportamento, como Freud e Piaget o faziam: este, por colocar o intelecto como um mecanismo de adaptação da criança ao mundo das coisas; aquele, por apontar os mecanismos de repressão, censura etc. como mecanismos de adaptação ao mundo das pessoas (Elkonin, 1987). A superação dessa visão idealista implica compreender a relação da criança com a sociedade construída historicamente a partir das necessidades dos homens.

Elkonin e Leontiev afirmam que cada estágio de desenvolvimento da criança é caracterizado por uma relação determinada, por uma atividade principal2 que desempenha a função de principal forma de relacionamento da criança com a realidade. Para esses estudiosos, o homem — a partir do desenvolvimento de suas atividades, tal como elas se formam nas condições concretas dadas de sua vida — adapta-se à natureza, modifica-a, cria objetos e meios de produção desses objetos, para suprir suas necessidades. A criança, nesse caso, por meio dessas atividades principais, relaciona-se com o mundo, e, em cada estágio, formam-se nela necessidades específicas em termos psíquicos. Leontiev (1987) enfatiza que o desenvolvimento dessa atividade condiciona as mudanças mais importantes nos processos psíquicos da criança e nas particularidades psicológicas da sua personalidade.

Segundo Elkonin (1987), os principais estágios de desenvolvimento pelos quais os sujeitos passam são: comunicação emocional do bebê; atividade objetal manipulatória; jogo de papéis; atividade de estudo; comunicação íntima pessoal; e atividade profissional/estudo. A comunicação emocional direta dos bebês com os adultos é a atividade principal desde as primeiras semanas de vida até mais ou menos um ano, constituindo-se como base para a formação de ações sensório-motoras de manipulação. Na relação da criança com a sociedade, num processo de assimilação das tarefas e dos motivos da atividade humana e das normas de relacionamento que as pessoas estabelecem durante suas relações, o bebê utiliza vários recursos para se comunicar com os adultos, como o choro, por exemplo, para demonstrar as sensações que está tendo e o sorriso para buscar uma forma de comunicação social. Conforme Zaporózhets (1987), o sentimento de amor filial, a simpatia por outras pessoas, o afeto amistoso, entre outros aspectos presentes na relação do bebê com outras crianças e o adulto, são enriquecidos e transformados no processo evolutivo da criança, tornando-se a base indispensável para o surgimento de sentimentos sociais mais complexos.

Já no primeiro ano de vida, a conduta da criança começa a reestruturar-se e cada vez mais aparecem processos de comportamento em virtude das condições sociais e da influência educativa das pessoas que a rodeiam. Para Vygotski (1996), há no primeiro ano de vida uma sociabilidade totalmente específica e peculiar em razão de uma situação social de desenvolvimento única, determinada por dois momentos fundamentais: o primeiro consiste na total incapacidade biológica, pois o bebê é incapaz de satisfazer quaisquer das suas necessidades básicas de sobrevivência. São os adultos que cuidam do bebê, e o caminho por intermédio dos adultos é a via principal de atividade da criança nessa idade. Praticamente todo comportamento do bebê está inserido e entrelaçado com o fator social e o contato da criança com a realidade é socialmente mediado. A segunda peculiaridade que caracteriza a situação social de desenvolvimento no primeiro ano de vida é a seguinte: embora o bebê dependa do adulto, ele ainda carece dos meios fundamentais de comunicação social em forma de linguagem. A forma como a vida do bebê é organizada o obriga a manter uma comunicação máxima com os adultos, porém essa comunicação é uma comunicação sem palavras, muitas vezes silenciosa, uma comunicação de gênero totalmente peculiar. Assim. "(...) o desenvolvimento do bebê no primeiro ano baseia-se na contradição entre a máxima sociabilidade (em razão da situação em que se encontra) e suas mínimas possibilidades de comunicação" (Vygotski, 1996, p. 286).

Em um segundo momento, ainda na primeira infância, a atividade principal passa a ser a objetal-instrumental, na qual tem lugar a assimilação dos procedimentos elaborados socialmente de ação com os objetos e, para que ocorra essa assimilação, é necessário que os adultos mostrem essas ações às crianças. A comunicação emocional dá lugar a uma colaboração prática. Por meio da linguagem, a criança mantém contato com o adulto e aprende a manipular os objetos criados pelos homens, organizando a comunicação e a colaboração com os adultos.

A primeira função da linguagem é a comunicação, um meio de expressão e compreensão entre os homens, que permite o intercâmbio social. Até mais ou menos os 18 meses, a criança ainda não consegue descobrir as funções simbólicas da linguagem, que é uma operação intelectual consciente e altamente complexa. Por volta dos dois anos, a criança apresenta grande evolução da linguagem, dando início a uma forma totalmente nova de comportamento, exclusivamente humana. Inicia-se a formação da consciência e a diferenciação do "eu" infantil. O "(...) pensamento da criança evolui em função do domínio dos meios sociais do pensamento, quer dizer, em função da linguagem" (Vygotski, 1993, p. 116). Esta é uma mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Dessa forma, o conhecimento e as experiências advindas da prática social podem ser difundidos por todos e apropriados por cada um, por cada sujeito em particular. Embora a linguagem constitua uma forma de comunicação com os adultos, para Elkonin (1987), ela não é a atividade principal nessa etapa de desenvolvimento; sua função maior é auxiliar a criança a compreender a ação dos objetos, é assimilar os procedimentos, socialmente elaborados, de ação com os objetos.

Na seqüência, no período pré-escolar, a atividade principal passa a ser o jogo ou a brincadeira. Utilizando-se dessas atividades, a criança apossa-se do mundo concreto dos objetos humanos, poor meio da reprodução das ações realizadas pelos adultos com esses objetos. As brincadeiras das crianças não são instintivas e o que determina seu conteúdo é a percepção que a criança tem do mundo dos objetos humanos. A criança opera com os objetos que são utilizados pelos adultos e, dessa forma, toma consciência deles e das ações humanas realizadas com eles. A criança, durante o desenvolvimento dessa consciência do mundo objetivo, por meio da brincadeira "(...) tenta integrar uma relação ativa não apenas com as coisas diretamente acessíveis a ela, mas também com o mundo mais amplo, isto é, ela se esforça para agir como um adulto" (Leontiev, 1998b, p. 121). Ela ainda não dominou e não pode dominar as operações exigidas pelas condições objetivas reais da ação dada, como, por exemplo, dirigir um carro, andar de motocicleta, pilotar um avião. Mas, na brincadeira, na atividade lúdica, ela pode realizar essa ação e resolve a contradição entre a necessidade de agir, por um lado, e a impossibilidade de executar as operações exigidas pela ação, de outro.

O principal significado do jogo, para Elkonin (1987), é permitir que a criança modele as relações entre as pessoas. O jogo é influenciado pelas atividades humanas e pelas relações entre as pessoas e o conteúdo fundamental é o homem — a atividade dos homens e as relações com os adultos. Ao mesmo tempo, ele exerce influência sobre o desenvolvimento psíquico da criança e sobre a formação de sua personalidade: "(...) a evolução do jogo prepara para a transição para uma fase nova, superior, do desenvolvimento psíquico, a transição para um novo período evolutivo" (Elkonin, 1998, p. 421).

No período pré-escolar, o que se constata é que as necessidades básicas da criança são supridas pelos adultos, e as crianças sentem sua dependência com relação a eles. O seu mundo divide-se em dois círculos: um criado pelos pais ou pelas pessoas que convivem com elas, sendo que essas relações determinam as relações com todas as demais pessoas; o outro grupo é formado pelos demais membros da sociedade. Portanto, a vida da criança muda muito quando ela entra na escola, onde a relação com os professores faz parte de um pequeno e íntimo círculo de seus contatos. A passagem da criança da infância pré-escolar à fase seguinte está condicionada, então, pela entrada da criança na escola e a atividade principal passa a ser o estudo. Conforme Leontiev (1978), o próprio lugar que a criança ocupa com relação ao adulto se torna diferente. Na escola, a criança tem deveres a cumprir, tarefas a executar e, pela primeira vez em seu desenvolvimento, tem a impressão de estar realizando atividades verdadeiramente importantes.

O estudo serve como intermediário de todo o sistema de relações da criança com os adultos que a cercam, incluindo a comunicação pessoal com a família. Podemos observar várias mudanças que se operam ao redor da criança, dentro mesmo da própria família: os parentes dirigem-se a ela sempre perguntando pela escola, pelos seus estudos; em casa a criança não pode ser importunada pelos irmãos quando está fazendo tarefa etc. Nesta atividade de estudo ocorre a assimilação de novos conhecimentos, cuja direção constitui o objetivo fundamental do ensino.

Para Davidov & Márkova (1987b, p. 321) a assimilação ou apropriação dos conhecimentos é o processo de reprodução, pelo indivíduo, dos "(...) procedimentos historicamente formados de transformação dos objetos da realidade circundante, dos tipos de relação em direção a isso e do processo de conversão de padrões, socialmente elaborados, em formas da 'subjetividade' individual". O ensino escolar deve, portanto, nesse estágio, introduzir o aluno na atividade de estudo, de forma que se aproprie dos conhecimentos científicos. Sobre a base dos estudos, conforme Davidov (1988), surgem a consciência e o pensamento teórico e desenvolvem-se, entre

Uma nova transição é a chegada da adolescência, com uma outra atividade principal: a comunicação íntima pessoal entre os jovens. Ocorre uma mudança na posição que o jovem ocupa com relação ao adulto e as suas forças físicas, juntamente com seus conhecimentos e capacidades, colocam-no, em certos casos, em pé de igualdade com os adultos, e, muitas vezes, até superior em alguns aspectos particulares. Ele torna-se crítico em face das exigências que lhe são impostas, das maneiras de agir, das qualidades pessoais dos adultos e também dos conhecimentos teóricos. Ele busca, na relação com o grupo, uma forma de posicionamento pessoal diante das questões que a realidade impõe à sua vida pessoal e social.

A adolescência é o período de desenvolvimento mais crítico e, nessa idade, segundo Elkonin (1987), essa atividade especial no estabelecimento de relações pessoais íntimas entre os adolescentes é uma forma de reproduzir, com os companheiros, as relações existentes entre as pessoas adultas. A interação com os companheiros é mediatizada por determinadas normas morais e éticas (regras de grupo). A atividade de estudo ainda continua sendo considerada importante para os jovens e ocorre, por parte dos alunos, o domínio da estrutura geral da atividade de estudo, a formação de seu caráter voluntário, a tomada de consciência das particularidades individuais de trabalho e a utilização desta atividade como meio para organizar as interações sociais com os companheiros de estudo.

Segundo Vygotski (1996), nessa fase de desenvolvimento se produz no adolescente um importante avanço no desenvolvimento intelectual, formando-se os verdadeiros conceitos. O pensamento por conceito abre para o jovem um mundo da consciência social, e o conhecimento da ciência, da arte e as diversas esferas da vida cultural podem ser corretamente assimiladas. Por meio do pensamento em conceito ele chega a compreender a realidade, as pessoas ao seu redor e a si mesmo. O pensamento abstrato desenvolve-se cada vez mais e o pensamento concreto começa a pertencer ao passado. O conteúdo do pensamento do jovem converte-se em convicção interna, em orientações dos seus interesses, em normas de conduta, em sentido ético, em seus desejos e seus propósitos.

Por meio da comunicação pessoal com seus iguais, o adolescente forma os pontos de vista gerais sobre o mundo, sobre as relações entre as pessoas, sobre o próprio futuro e estrutura-se o sentido pessoal da vida. Esse comportamento em grupo ainda dá origem a novas tarefas e motivos de atividade dirigida ao futuro, e adquire o caráter de atividade profissional/de estudo. Davidov & Márkova (1987a) esclarecem que na idade escolar avançada a atividade de estudo passa a ser utilizada como meio para a orientação e preparação profissional, ocorrendo o domínio dos meios de atividade de estudo autônomo, com uma atividade cognoscitiva e investigativa criadora. A etapa final do desenvolvimento acontece quando o indivíduo se torna trabalhador, ocupando um novo lugar na sociedade.

É a sociedade que determina o conteúdo e a motivação na vida da criança, pois todas as atividades dominantes aparecem como elementos da cultura humana. E, de acordo com as características objetais e de conteúdos das atividades dominantes, identificadas até o presente, essas atividades, segundo Elkonin (1987, p. 121), podem ser divididas em dois grupos: no primeiro grupo estão aquelas atividades desenvolvidas no sistema criança-adulto social, as quais têm orientação predominante na atividade humana e na assimilação de objetivos, motivos e normas das relações entre as pessoas; no segundo grupo estão presentes as atividades que ocorrem num sistema criança-objeto social, no qual ocorre a assimilação de procedimentos de ação com os objetos.

As atividades são dominantes em determinados períodos e, no período seguinte, não deixam de existir, mas vão perdendo sua força. Após os períodos em que tem lugar o desenvolvimento preponderante na esfera motivacional e de necessidades, seguem períodos com preponderância de formação de possibilidades operacionais técnicas. Neste aspecto, Elkonin (1987, p. 122) formula, então, uma hipótese do caráter periódico dos processos de desenvolvimento psíquico e distribui os tipos de atividade em grupos de acordo com a seqüência de atividade principal, obtendo a seguinte série: a) primeira infância: comunicação emocional direta (1º grupo) e atividade objetal manipulatória (2º grupo); b) segunda infância: jogo (1º grupo) e atividade de estudo (2o grupo); e c) adolescência: comunicação íntima pessoal (1º grupo) e atividade profissional de estudo (2o grupo). Cada época consiste em dois períodos regularmente ligados entre si. Tem início com o período em que predomina a assimilação dos objetivos, dos motivos e das normas da atividade e essa etapa prepara para a passagem ao segundo período, no qual ocorrem a assimilação dos procedimentos de ação com o objeto e a formação de possibilidades técnicas e operacionais.

Como ocorre, então, a passagem de uma etapa de desenvolvimento à seguinte? Leontiev (1998a) argumenta que, no decorrer do seu desenvolvimento, a criança começa a se dar conta de que o lugar que ocupava no mundo das relações humanas que a circundava não corresponde às suas potencialidades e se esforça para modificá-lo, surgindo uma contradição explícita entre esses dois fatores. Ela torna-se consciente das relações sociais estabelecidas, e essa conscientização a leva a uma mudança na motivação de sua atividade; nascem novos motivos, conduzindo-a a uma reinterpretação de suas ações anteriores. A atividade principal em determinado momento passa a um segundo plano, e uma nova atividade principal surge, dando início a um novo estágio de desenvolvimento.

Essas transições provocam mudanças em ações, operações e funções que, por sua vez, conduzem a mudanças de atividades como um todo. As mudanças observadas nos processos de vida psíquica da criança (percepção, memória, pensamento, entre outras funções psíquicas), dentro do limite de cada estágio, estão ligadas entre si e não são independentes umas das outras. No caso da memória, por exemplo, no período pré-escolar, ela apresentava determinada função, mas quando chega à fase dos estudos, a memória ocupa novo lugar na estrutura da atividade psíquica da criança; a memorização torna-se voluntária e consciente.

Ao abordarmos a questão da atividade principal e do seu significado para o desenvolvimento da criança em determinado período não queremos dizer que, simultaneamente, não exista nenhum desenvolvimento em outras direções. Para Elkonin (1987, p. 122) as atividades da criança são variadas e "(...) seu surgimento e conversão em atividade principal não eliminam as existentes anteriormente, senão que só mudam seu lugar no sistema geral de relações da criança com a realidade, as quais se tornam mais ricas". A transição de uma etapa de desenvolvimento infantil para outra é caracterizada por crises. Estas surgem no limite entre duas idades e assinalam o fim de uma etapa precedente de desenvolvimento e o começo da seguinte.

Vygotski (1996) identificou as seguintes crises: crises pós-natal — primeiro ano (2 meses-1 ano); crise de 1 ano — infância precoce (1 ano-3 anos); crise de 3 anos — idade pré-escolar (3 anos-7 anos); crise dos 7 anos — idade escolar (8 anos-12 anos); crise dos 13 anos — puberdade (14 anos-18 anos); e crise dos 17 anos. Nesses períodos de crise — que podem durar vários meses, um ano, dois ao máximo — produzem-se mudanças bruscas, rupturas na personalidade da criança. Conforme Vygotski (idem, ibid., p. 256-257), algumas características estão presentes nesses períodos: 1a.) os limites entre o começo e o final da crise e as idades contíguas são totalmente indefinidas — as crises originam-se de forma imperceptível e é difícil determinar o momento de seu começo e fim; 2a) um grande número de crianças que vivem essa fase são difíceis de educar, elas podem ter conflitos com outras pessoas e consigo mesmas, no entanto não é sempre assim, pois os períodos críticos são distintos em diferentes crianças; 3a) o negativismo é uma característica marcante. Esses períodos, portanto, são caracterizados por uma atitude de negativismo com relação às exigências antes cumpridas: as crianças tornam-se desobedientes, caprichosas, contestadoras, e, muitas vezes, entram em conflito com os adultos que as cercam, geralmente com os pais e professores. Bozhóvich (1987, p. 255) reforça essa idéia afirmando que todas as peculiaridades das crianças que vivem um período crítico indicam frustração, que surge como uma resposta à privação de algumas necessidades essenciais ao sujeito. Portanto, o autor conclui que essa reação de frustração ocorre quando as crianças não satisfazem suas necessidades ou quando, inclusive, reprimem ativamente aquelas novas necessidades que surgem no final de cada etapa de desenvolvimento.

No desenvolvimento de períodos críticos, com relação aos períodos estáveis, "(...) passam ao primeiro plano os processos de extinção e retirada, decomposição e desintegração de tudo que se havia formado na etapa anterior e caracterizava a criança de dita idade. A criança perde o que já tinha conseguido antes de adquirir algo novo" (Vygotski, 1996, p. 257). Ela perde os interesses que ultimamente ocupavam a maior parte de seu tempo e atenção, e agora é como se houvesse um esvaziamento das formas de suas relações externas, assim como de sua vida interior.

Os períodos de crise que se intercalam entre os estáveis, "(...) configuram os pontos críticos, de mudança no desenvolvimento, confirmando uma vez mais que o desenvolvimento da criança é um processo dialético em que a passagem de um estágio a outro não se realiza pela via evolutiva, senão revolucionária" (idem, ibid., p. 258). As crises mostram a necessidade interna das mudanças de estágios, da passagem de um estágio a outro, pois surge uma contradição aberta entre o modo de vida da criança e as suas possibilidades que já superaram esse modo de vida. No entanto, de acordo com Leontiev (1998a), essas crises não são inevitáveis: o que são inevitáveis são os momentos críticos, a ruptura, as mudanças qualitativas no desenvolvimento. É por isso, segundo Leontiev (1978), que atividade se reorganiza. As necessidades internas e externas levam a criança a mudar de interesse, a formarem-se novas atividades dominantes, num processo dialético entre o "velho" e o "novo" em termos de capacidades, habilidades, aspirações e formações psicológicas. Utilizando, neste aspecto, as palavras de Davidov (1988), podemos dizer que o que era uma atividade principal, na passagem de um estágio para outro, torna-se "latente", exercendo uma influência "subterrânea".

Para Vygotski (1996) as idades constituem formações globais e dinâmicas e as estruturas determinam o papel e o peso específico de cada linha parcial de desenvolvimento. Em cada período de idade não se modificam, no transcorrer do desenvolvimento, aspectos isolados da personalidade da criança. A personalidade da criança modifica-se em sua estrutura interna como um todo e as leis que regulam esse todo determinam a dinâmica de cada uma de suas partes. Por esse motivo, em cada etapa de idade encontramos sempre uma nova formação central (ou neoformação) que funciona como uma espécie de guia para todo o processo de desenvolvimento que caracteriza a reorganização de toda a personalidade da criança sobre uma base nova. A estrutura de cada idade anterior transforma-se em uma nova que surge e se desenvolve à medida que ocorre o desenvolvimento da criança. Para entender essa estrutura é fundamental levar em consideração que a relação entre o todo e a parte é uma relação dinâmica que determina as mudanças e o desenvolvimento tanto do todo como das partes.

Por meio de suas pesquisas Vygotski (1996), concluiu que, na análise da evolução do desenvolvimento infantil, é preciso, pois: 1º) estudar a dinâmica da idade para esclarecer como a situação social influencia nas novas estruturas da consciência da criança nos diversos períodos evolutivos; 2º) estudar a origem ou gênese das novas formações centrais de determinada idade; 3º) estudar as conseqüências advindas dessas novas estruturas de idades, pois a nova estrutura da consciência adquirida significa que a criança percebe distintas maneiras em sua vida interior, assim como o mecanismo interno de suas funções psíquicas; e 4º) observar, além das transformações internas, a mudança de comportamento na relação com outras pessoas, pois essa reestruturação da situação social de desenvolvimento constitui o conteúdo principal das idades críticas.

Consideramos importante apresentar, a título de esclarecimento, a lei fundamental da dinâmica das idades, propostas por Vygotski (ibid., p. 265):
(...) as forças que movem o desenvolvimento da criança em uma ou outra idade acabam por negar e destruir a própria base de desenvolvimento de toda idade, determinando, com a necessidade interna, o fim da situação social do desenvolvimento, o fim da etapa dada de desenvolvimento no passo seguinte, ou ao período superior de idade.

Considerações finais
Com relação à periodização do desenvolvimento, a psicologia russa tomou como base as idéias elaboradas por Vigotski sobre o problema das idades e as crises pelas quais passam a criança no desenvolvimento ontogenético de sua personalidade. Nessa perspectiva, a infância tem um caráter histórico concreto e as particularidades, as especificidades de cada idade também são historicamente transformadas. Os autores russos, como Vygotski, Leontiev e Elkonin, propuseram uma periodização do desenvolvimento fazendo referência a uma sociedade socialista.

Os estágios de desenvolvimento, para esses autores, possuem uma certa seqüência no tempo, mas não são imutáveis. Eles dependem das condições concretas nas quais ocorre o desenvolvimento. As condições histórico-sociais concretas exercem influência tanto sobre o conteúdo concreto de um estágio individual do desenvolvimento como sobre o curso total do processo de desenvolvimento psíquico como um todo. Como exemplo, podemos citar a atividade principal do trabalho que, em cada época da sociedade, alonga-se ou não, de acordo com as exigências sociais. Mesmo no caso da atividade de jogo, em determinados lugares, mesmo no Brasil, onde já foi constatado o grande índice de crianças que trabalham, não podemos dizer que essa atividade seja a dominante no período pré-escolar, pois os limites de idade de cada estágio também dependem das condições históricas concretas nas quais está ocorrendo o desenvolvimento da criança. Esses limites de idade se alteram com a mudança das condições histórico-sociais. Portanto, Elkonin (1998, p. 81) levanta a conjectura de que "(...) os processos do desenvolvimento psíquico que se operam em certos períodos da infância aparecerão e mudarão na história".

Elkonin (1987, p. 12-124) ressalta que a importância teórica e prática das hipóteses sobre o caráter periódico dos processos de desenvolvimento psíquico e do esquema de periodização construído sobre essa base permite: a) superar a divisão entre aspectos motivacionais e das necessidades, e intelectual-cognitivo; b) considerar o desenvolvimento psíquico desenvolvendo-se segundo uma espiral ascendente e não linear; c) analisar as vinculações existentes entre os períodos isolados para, então, estabelecer a importância funcional de todo período precedente para o início do seguinte; e d) finalmente, essa hipótese está orientada a dividir o desenvolvimento psíquico em épocas e estádios de tal forma que corresponda às leis internas de desenvolvimento, vinculados a fatores externos, às necessidades que a realidade externa propõe aos sujeitos.

Na prática, esses conhecimentos ajudam a solucionar a questão sobre a forma como as crianças, em alguns períodos de desenvolvimento infantil, reagem a determinadas influências do ensino e mesmo sobre a forma como o ensino é organizado na nossa sociedade. Leontiev (1978) afirma que as próprias crises em cada etapa de desenvolvimento podem ser superadas, ou mesmo podem deixar de existir se o processo educativo for racionalmente conduzido, se houver uma direção no sentido de já levar em consideração as estruturas mentais que estão sendo elaboradas no período de transição de um estágio para o outro.

Kostiuk (1991, p. 20) entende que aprendizagem e educação têm muito em comum e que conduzir o desenvolvimento por meio da educação "(...) significa organizar esta interação, dirigir a atividade da criança para o conhecimento da realidade e para o domínio — por meio da palavra — do saber e da cultura da humanidade, desenvolver concepções sociais, convicções e normas de comportamento moral". Neste aspecto, podemos nos voltar para a teoria de Vigotski que aborda a relação entre desenvolvimento e aprendizagem, enfocando o desenvolvimento próximo. Na abordagem histórico-cultural, o aprendizado é considerado um aspecto fundamental para que as funções psicológicas superiores aconteçam; dessa forma o ensino é fator imprescindível para o desenvolvimento do psiquismo humano.

Para Vigotski (1993, 1998) existem relações complexas entre desenvolvimento e aprendizagem. Esse autor identificou dois níveis de desenvolvimento. O primeiro nível é denominado de desenvolvimento real ou efetivo. Ele é constituído pelas funções psicológicas já efetivadas. O segundo nível é o desenvolvimento próximo e define-se como aquelas funções que estão em vias de amadurecer e que podem ser identificadas por meio da solução de tarefas com o auxílio de adultos e outras crianças mais experientes. Ao passo que aquele nível caracteriza o desenvolvimento mental, retrospectivamente, este o caracteriza prospectivamente. À medida que ocorre a interação com outras pessoas, a criança é capaz de movimentar vários processos de desenvolvimento que, sem ajuda, seriam impossíveis de ocorrer. Vygotski (1993, p. 239) ressalta que "(...) a zona de desenvolvimento próximo tem um valor mais direto para a dinâmica da instrução que o nível atual de seu desenvolvimento". Portanto, o ensino deve incidir sobre essa zona de desenvolvimento e as atividades pedagógicas precisam ser organizadas, com a finalidade de conduzir o aluno à apropriação dos conceitos científicos elaborados pela humanidade.

Davidov (1988) enfatiza a necessidade de a educação ser guiada pelo princípio do desenvolvimento, isto é, que haja uma sistematização da educação de forma que esta possa dirigir regularmente os ritmos e o conteúdo do desenvolvimento por meio de ações que exercem influência sobre este. Dessa forma, o ensino deve realmente promover o desenvolvimento e criar nas crianças as condições e premissas do desenvolvimento psíquico. Neste processo, o professor tem papel destacado como mediador entre o aluno e o conhecimento, cabendo a ele intervir na zona de desenvolvimento próximo dos alunos, conduzindo a prática pedagógica. Portanto os educadores, de uma forma geral, precisam estar atentos às peculiaridades do desenvolvimento psíquico em diferentes etapas evolutivas, para que possam estabelecer estratégias que favoreçam a apropriação do conhecimento científico. Neste sentido, Kostiuk (1991) ressalta que é necessário que o professor tenha clareza de como o ensino influi sobre o desenvolvimento intelectual e das características psicológicas dos alunos, e que se estudem maneiras de valorizar a eficácia dos diversos métodos de ensino no desenvolvimento do pensamento, da memória e de outros processos mentais.

O desenvolvimento do aluno não ocorre, segundo Davidov & Márkova (1987a, 1987b), pela assimilação de qualquer conceito ou habilidade particular; o desenvolvimento ocorre quando existem avanços qualitativos no nível e na forma das capacidades e nos tipos de atividades, de que se apropria o indivíduo. A atividade especial do escolar deve estar fixada na experiência histórico-social — nos objetos da cultura humana, nas diversas esferas de conhecimento e na ciência —; são os conhecimentos científicos que devem ser apropriados pelos alunos levando-se a pertencer ao gênero humano.

De acordo com Leontiev (1978), desenvolvendo-se, a criança passa a atuar como membro da sociedade, portadora de obrigações que esta lhe impõe e os estádios sucessivos do seu desenvolvimento são de fato graus diferentes dessa transformação. Como afirmamos no decorrer deste trabalho, o homem apropria-se do mundo dos objetos por meio das relações reais que estabelece com o mundo. Essas relações são determinadas pelas condições históricas concretas, sociais, nas quais o homem se desenvolve e também pela maneira como a sua vida se forma nessas condições e como ele se apropria das objetivações já produzidas e transmitidas por intermédio da educação.