sexta-feira, 27 de março de 2015

1984 - George Orwell - Resenha

“1984” é um daqueles livros que transformam o leitor após a última página. Perturbadoramente indispensável. Não dá para passar ileso das palavras de George Orwell. A sociedade fictícia criada por ele causa repulsa, horror e medo. Os sentimentos são oprimidos em detrimento de uma fidelidade cega ao Estado, representado pela figura do Grande Irmão.
Quando publicado em 1949, a história parecia um prelúdio do porvir. Num contexto pós-Segunda Guerra Mundial, as atenções do mundo estavam divididas entre as duas grandes potências da época: URSS e EUA. A Guerra Fria engatinhava. O clima de incerteza pairava. A dualidade comunismo versus capitalismo era o tema da vez.
Mas o ano de 1984 chegou, passou e alguns questionam a relevância do livro de Orwell nos dias de hoje. Se a intenção do autor fosse fazer somente uma previsão um tanto apocalíptica do futuro, poderíamos afirmar que ele não fora bem-sucedido. Levando ao pé da letra, essa sociedade totalitária nos moldes da imaginada por Orwell não existe. Inegável que alguns países vivem em ditadura talvez até tão ruim quanto a descrita no livro, mas não são maioria.
Entretanto, dificilmente o autor de um livro tão relevante e denso como “1984” teria se atido somente ao ano que dá titulo a sua obra. É preciso enxergar além de possíveis previsões. O livro é muito mais do que isso. É um grito em prol da rebeldia. Dessa insatisfação pessoal e, muitas vezes, social que nos acomete e que faz a sociedade clamar por mudanças.
“Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força”
O protagonista de “1984” é Winston, funcionário do Departamento de Documentação do Ministério da Verdade, um dos quatro ministérios que governam a fictícia Oceânia, que junto com a Lestásia e Eurásia, formam as três nações que dominam o mundo. Sua função é falsificar registros históricos, a fim de moldar o passado à luz dos interesses do presente tirânico. A Oceânia reúne a ex-Inglaterra, as ex-Américas, ex-Austrália e Nova Zelândia e parte da África.
Além do Ministério da Verdade, existem ainda o Ministério do Amor, que reprime o desejo, além de torturar os rebeldes; o Ministério da Fartura, que administra a distribuição de alimentos e bens de consumo; e o Ministério da Paz, que conduz os assuntos da guerra.
Na Oceânia, a sociedade é comandada pelo Partido. Sem legislação própria, a lei vigente é a obediência indiscutível ao Grande Irmão. Qualquer suspeita de desobediência é tratada com rigor e crueldade.
Como forma de fazer uma verdadeira lavagem cerebral nas pessoas e disseminar o medo, cartazes com fotos do Grande Irmão são espalhados pelas ruas com o slogan: “O Grande Irmão está de olho em você”. E ele realmente estava. Espalhadas em locais públicos e nas residências, existem um tipo de televisão capaz de monitorar, gravar e espionar a população chamada “teletela”. Nelas, programações em ode ao Partido eram passadas diária e ininterruptamente. Fica proibido desligar as “teletelas” que, de tão sensíveis, são capazes de detectar o menor dos sussurros.
Exausto de viver em uma sociedade em que o passado era modificado de acordo com os interesses do Partido e em que crianças eram treinadas para denunciar os próprios pais, Winston compra clandestinamente um diário e passa então a fazer desabafos. Logicamente, que escondido em um dos poucos lugares de sua casa onde a “teletela” não o poderia espionar. À medida que transforma os pensamentos em escrita, ele questiona os absurdos cometidos pelo Partido. O sentimento de insatisfação cresce.
Nesse meio tempo, Winston conhece Júlia, funcionária do Departamento de Ficção. Os dois se apaixonam e passam a se encontrar clandestinamente. A princípio, sempre em lugares diferentes. Até que passam a alugar um quarto. Um refúgio em ruinas que, para eles, era o paraíso.
Relações amorosas, para o partido, eram vistas como um crime grave. Qualquer sinal de afeto era visto com desconfiança. Até as relações entre pessoas da mesma família eram monitoradas. Mas o casal decidira se arriscar, mesmo sabendo que, provavelmente, um dia seria pego. E a partir do momento que Winston passa a viver esse sentimento transgressor, ele começa a acreditar que uma rebelião é possível. O sentimento de insatisfação transborda. Era preciso agir.
“Ver aquilo que temos diante do nariz requer uma luta constante”
Apesar de tratar de um tema bastante complexo, a linguagem utilizada por Orwell é clara e acessível. As frases são, na maioria das vezes, escritas na ordem direta. As metáforas são interpretadas sem grandes dificuldades. No entanto, de simples o livro não tem nada. Os diálogos são riquíssimos e as reflexões feitas pelo protagonista, um soco no estômago.
Sem dúvida um livro envolvente que te prende da primeira à última frase. Impossível não se indignar com o Partido e não torcer por Winston e Júlia. Em alguns momentos, dá vontade de entrar na história e reunir os “proletas” (mais de 80% da população que é dominada pelo Partido e que vive na miséria). Em outro trecho, mais para o final, o sentimento de revolta cresce e já não é possível vislumbrar um desfecho feliz.
Uma desesperança surge no peito. Angústia, talvez. E a certeza que precisamos nos indignar sim. Contra as injustiças, desmandos, mentiras, descaso, desamor. Acostumarmo-nos com a situação vigente? Jamais. Que viva a rebeldia!


domingo, 1 de março de 2015

OS ATOS DA FALA

Ato ilocucionário & Ato da fala
Atos da Fala, o trabalho mais antigo de Searle (Cambridge 1969), o qual lhe deu uma estável reputação, foi sobre os atos da fala.
Essa publicação revolucionou o modo como pensamos sobre atos comunicativos normais, tais como afirmar, solicitar, e prometer, revelando uma complexidade subjacente que mudou fundamentalmente nossa compreensão de como o conteúdo semântico e força de um enunciado interagem com fatores cognitivos, sociais e contextuais. O livro, Atos da Fala, tentou sintetizar ideias de muitos colegas, entre eles J.L. Austin (the term "illocutionary act"), Ludwig Wittgenstein, G.C.J. Midgley (a distinção entre regras constitutivas e regulativas), e sua própria tese, em Atos de Fala, dizendo que tais atos são constituídos por regras de linguagem.
Ele também se inspirou na obra de P.F. Strawson , John Rawls, e H. Paul Grice (a análise do significado como uma tentativa de ser compreendido), Hare e Stenius (a distinção, sobre o significado, entre a força ilocucionária e conteúdo proposicional) , e William P. Alston , que defendia que significado da sentença consiste em conjuntos de regras regulativas exigindo o orador para realizar o ato ilocucionário indicado pela sentença, e que tais atos envolvem a emissão de uma sentença que (a) indica que um executa o ato, (b) significa o que se diz, e (c) endereça a uma audiência na vizinhança. O critério de demarcação entre ilocuções e perlocuções fica mais claramente estabelecido com Searle:
" O conhecimento [por parte do ouvinte] é simplesmente sua compreensão do que foi dito, não é nenhuma resposta ou efeito adicionais (...) O efeito sobre o ouvinte não é nem uma crença nem uma resposta. Consiste simplesmente na compreensão. "John Searle Speech Acts, página 54.
Este passou a ser o critério de demarcação que temos chamado de ortodoxo para a teoria dos atos da fala. O ato ilocucionário só inclui a "resposta" cognitiva mínima do ouvinte: a compreensão. Qualquer outro efeito sobre o ouvinte que um ato de fala possa ter é um efeito perlocucionário, e ele não é levado em consideração ao nível da teoria do significado.
Em seu livro Os atos de fala: um ensaio de filosofia da linguagem (1969), Searle propõe a combinar todos esses elementos para dar conta dos chamados "atos ilocucionários", que J.L. Austin tinha introduzido em "Como Fazer Coisas com palavras" How To Do Things with Words.
Apesar de sua intenção anunciada (1969, 54)  para apresentar uma "análise completa do ato ilocucionário”, Searle, na verdade não dá uma análise. Em vez disso, ele fornece uma análise de, supostamente, um protótipo do ato ilocucionário de prometer, e oferece um conjunto de regras semânticas com a intenção de representar o significado linguístico de dispositivos indicando (supostamente) adicionais tipos de atos ilocucionários (1969, 57-71). Dentre os conceitos apresentados no livro 'Speech Acts', um deles é a distinção entre a "força ilocucionária" e "conteúdo proposicional" de uma declaração. Searle não define precisamente o primeiro, como tal, mas introduz várias forças ilocucionários possíveis apresentando exemplos. De acordo com Searle, as frases:
Sam fuma regularmente.
Sam fuma regularmente?
Sam, fume regularmente!
Que Sam fume regularmente!
Cada frase indica o mesmo conteúdo proposicional (Sam fuma regularmente), mas diferem na força ilocucionária indicada (uma declaração, uma pergunta, um comando, e uma expressão de desejo, respectivamente) (1969, 22). Searle propõe uma nova classificação dos Atos de Fala, a partir das regras que os enunciados cumprem, distinguindo os assertivos (as afirmações), os diretivos (as ordens), os comissivos (as promessas), os expressivos (as felicitações), os declarativos (declarar aberta ou encerrada a sessão).
Condições de satisfação
A teoria dos Atos de Fala foi enriquecida com o contributo dos processos de inferência por implicitação (implicature) formulados nomeadamente por Paul Grice De acordo com um relato posterior que Searle apresenta em "Intentionality" (1983) e que difere em aspectos importantes daquele sugerido em 'Atos de Fala'; os atos ilocucionários são caracterizados pelas suas condições de satisfação (como a ideia adotada com base no trabalho de Strawson, "Significado e Verdade", publicado em 1971) e uma direção de ajuste.
Por exemplo, na afirmação "João comprou duas barras de chocolate" é satisfeita se e somente se ela é verdade, ou seja, somente se João comprou duas barras de chocolate. Por outro lado, o comando "João, compre duas barras de chocolate" é satisfeita se e somente se, João executa a ação de comprar de duas barras de chocolate. Searle refere-se a primeira como tendo uma direção de ajuste de "palavra-ao-mundo", uma vez que as palavras são supostamente ajustadas para representar fielmente o mundo, e no segundo caso como tendo o sentido de ajuste de "mundo-para-palavra", desde que o mundo é que muda para se ajustar ao significado da palavra. (Há também o sentido "duplo de ajuste direcional", onde a relação vai aos dois sentidos, e a também a direção "nula de ajuste" ou de "zero ajuste", em que o sentido vai a nenhuma direção, porque o conteúdo proposicional da palavra é pressuposto, como na frase "Me desculpe, eu comi as duas barras de chocolate do João"). Em "Foundations of Illocutionary Logic" 36 de 1985, Searle usa proeminente a noção do "ponto ilocucionário". (Embora Searle não menciona usos anteriores desse conceito, ele se origina a partir do artigo de Sesonske "Performatives"). [25]
Segundo Searle, os atos ilocucionários com propósito declaratório têm esse duplo ajuste e atos ilocucionários têm direção de ajuste nula. Em síntese, Searle diz, que há quatro e tão somente quatro direções de ajuste:
direção de ajuste palavra-mundo — a proposição tem de corresponder a um independente estado de coisas no mundo, são seus exemplos relatos, descrições, hipóteses, predições, promessas;
Direção de ajuste mundo-palavra — o mundo é alterado para se ajustar ao conteúdo da proposição, sendo seus exemplos ordens, comandos, súplicas, pedidos;
Direção de ajuste dupla — o mundo é alterado para se ajustar ao conteúdo proposicional que por sua vez representa o mundo como sendo alterado, são seu exemplo declarações;
Direção de ajuste nula — não há intenção de realizar nenhum ajuste porque o propósito do ato é simplesmente expressar a atitude do falante em relação ao estado de coisas representado pela proposição ou suspender a relação entre linguagem e realidade, em comum acordo com o ouvinte. Exemplos dessa direção são as expressões de felicidade ou de raiva, ou as ficções. Um exemplo constantemente citado por Searle foi escrito por Elizabeth Anscombe: "Suponhamos que um homem vá ao supermercado com uma lista de compras feito por sua esposa, onde estão escritas as palavras "feijão, manteiga, toucinho e pão". Suponhamos que, enquanto anda pelo supermercado com seu carrinho, selecionando esses itens, seja seguido por um detetive, que anota tudo que ele pega. Ao saírem da loja, comprador e detetive terão suas listas idênticas. No entanto, que a função das duas listas será bem diferente. No caso do comprador, o propósito da lista é, por assim dizer, levar o mundo a corresponder às palavras; ele deve fazer com que a lista se ajuste às ações do comprador. " Elizabeth Anscombe
Isso também pode ser demonstrado, aponta Searle, através da observação do papel do “erro” nos dois casos.
Se o detetive chegar em casa e de repente se der conta de que o homem comprou costeletas de porco em vez de comprar toucinho, poderá simplesmente apagar a palavra “toucinho” e escrever “costeletas de porco”.
Entretanto, se o comprador chegar em casa e a esposa lhe chamar a atenção para o fato de ter comprado costeletas de porco em vez de toucinho, ele não poderá corrigir o erro apagando “toucinho” da lista e nela escrevendo “costeletas de porco”. Nesse exemplo, Searle demonstra que ambas as listas são o conteúdo proposicional, porém, de diferentes atos ilocucionários. A forma pela qual esse conteúdo se relacionará com a realidade dependerá da força ilocucionária, e a diferença é quanto à direção de ajuste. A lista do detetive tem a direção de ajuste palavra-ao-mundo, e a lista do comprador tem a direção de ajuste mundo-a-palavra.
Cenário e Rede
Em Intencionalidade: Um Ensaio de Filosofia da Mente (1983), professor Searle estabelece a aplicação de certos elementos de sua compreensão dos "atos ilocucionários" para a investigação da Intencionalidade. Searle também introduz um termo técnico, o "Cenário" (segundo plano ou pano de fundo), que, segundo ele, tem sido fonte de muita discussão.
Searle diz: “Embora eu venha defendendo essa tese há quase vinte anos, muitas pessoas, cujas opiniões eu respeito, ainda discordam de mim sobre isso”. Ele define "Cenário" como um conjunto de habilidades, capacidades, tendências e disposições que os humanos têm e que não são nelas mesmas estados intencionais. Assim, quando alguém nos pede para "cortar o bolo" sabemos que devemos usar uma faca e quando alguém nos pede para "cortar a grama" sabemos que devemos usar um cortador de grama (e não o contrário), mesmo que o pedido em si não inclua este detalhe. Searle, às vezes, suplementa a sua referência ao cenário com o conceito de "Rede", que é o conjunto da rede de outras crenças, desejos e outros estados intencionais necessários para qualquer estado intencional em particular poder fazer sentido. Searle argumenta que o seu conceito de Cenário é semelhante aos conceitos fornecidos por vários outros pensadores, incluindo o argumento de linguagem privada em Investigações Filosóficas de Wittgenstein (“a obra da fase final de Wittgenstein é em grande parte, sobre o Cenário”. ) e em Habitus de Bourdieu.
"...os nossos estados mentais só funcionam do modo como funcionam, porque funcionam em frente a um cenário de capacidades, competências, habilidades, hábitos, maneiras de fazer coisas e atitudes gerais perante o Mundo que, em si mesmas, não consistem em estados intencionais." John Searle Intentionality: An Essay in the Philosophy of Mind
Searle nos da outro exemplo: Quando ele vai à universidade, é mais que mera opinião que haverá um chão para que ele possa andar ou para que o ônibus possa seguir sua trajetória até a universidade. Seria absurdo (ou não?) se todos os dias nós acordássemos e começássemos a nos questionar se haverá alguém com o qual possamos nos comunicar, ou, se haverá mesmo um chão para que possamos caminhar? Em outras palavras, as posições-padrão são anteriores à teoria, às opiniões, às hipóteses de trabalho, por não precisarem ser justificadas. Muito pelo contrário, para fazermos um ataque as posições-padrão faz-se necessário “um esforço consciente e um argumento convincente” 
Algumas das posições-padrão para Searle são:
Há um mundo real que existe independente de nós, independente de nossas experiências, pensamentos, linguagem.
Temos acesso perceptivo direto a esse mundo por meio de nossos sentidos, especialmente o tato e a visão.
As palavras de nossa linguagem, palavras como coelho ou árvore, têm em geral significados razoavelmente claros. Por causa de seus significados, podem ser usadas para nos referirmos aos objetos reais do mundo e para falarmos sobre eles.
Nossas afirmações são, em geral, verdadeiras ou falsas dependendo de corresponderem ao modo como as coisas são, ou seja, aos fatos do mundo.
A causalidade é uma relação real entre objetos e estados de coisas do mundo, uma relação pela qual um fenômeno, a causa, provoca o outro, o efeito. John Searle Mind: A Brief Introduction 
Para Searle, esse conjunto de competências chamado de Cenário ou Pano de Fundo, mais tecnicamente "Background", o ' pano de fundo da intencionalidade', capacita ao agente de uma ação ter intenções, crenças, desejos, etc., mas não são intencionais. Por exemplo, Searle coloca que o agente só pode costurar se ele é capaz de costurar ou tem a crença de que pode aprender (tornar-se capaz) a costurar. Ele tem intenção de ir ao museu de artes visuais se acredita que pode efetivamente ver, mas a capacidade de enxergar não é intencional, nem depende simplesmente dos seus olhos – por causa de um acidente cerebral, ele pode ter olhos intactos, mas pode ficar cego. Ele não pode, também, querer sair da cadeira – a qual esta sentado – voando, pois ele não tem essa capacidade, apesar do agente poder imaginar que seria bom ter essa capacidade para que ele possa sair voando – especialmente quando ele está cansado. As capacidades de Background do agente da ação têm valor de sobrevivência. A pessoa que tenha a verdadeira intenção de voar, pois se acha capaz de fazê-lo, provavelmente não viverá muito tempo: ela um dia estará no alto de um prédio e vai acreditar que é capaz de voar pela janela.
"A rede inteira da intencionalidade só funciona sobre um fundo de capacidades humanas que em si mesmas não são estados mentais." John Searle Intencionalidade (1983) 
A intencionalidade da consciência e as decisões racionais funcionam, para Searle, apenas dentro de uma “Rede” de intencionalidades que dá a elas suporte. Assim, se, por exemplo, você deseja muito ir para festa e, então, pega um taxi, isso significa que você escolheu algumas intencionalidades dentro de um número infinito de outras, que você acredita que o taxi é um tipo de meio de transporte que pode levá-lo (a) para a festa; significa também que você acredita que existe uma festa e, além de saber onde ela fica, você se sente capaz de explicar o caminho ao motorista, a assim por diante. A Rede, por sua vez funciona apenas com o suporte do Cenário ou "Background".
Searle defende a tese de que essas explicações de sentido comum da conduta humana não seriam ultrapassadas ou subtraídas por explicações “supostamente científicas”. Isso porque os princípios que delineamos não descrevem o fenômeno, mas constituem, em parte, o fenômeno. Searle continua mantendo suas convicções sobre a importância da consciência (da subjetividade imanente às questões mentais) e das explicações mentalísticas de sentido comum.
Searle versus Kripke
Saul Kripke defendeu a teoria da referência direta quando aplicada a nomes próprios que se tornou popular por Gottlob Frege, Bertrand Russell, e PF Strawson, mas ele ataca a teoria descritivista dos nomes próprios. Para Kripke, os nomes próprios são "designadores rígidos" , no sentido de que eles designam os mesmos indivíduos em todos os mundos possíveis . No entanto, em sua opinião, o que é uma teoria dos nomes deve explicar, em primeiro lugar, não é como referência acaba fixada em todos os mundos possíveis, mas como referência se fixa no nosso mundo real Kripke afirma que os nomes próprios não têm qualquer "sentido" , porque os sentidos só oferecem fatos contingentes sobre as coisas.
Kripke propõe vários exemplos que apontam deficiências na teoria descritivista, bem como uma visão mais precisa de como conseguir nomes de referência a objetos. As críticas oferecidas por Kripke foram publicadas em "Naming and Necessity" e a resposta de Searle em "Intencionalidade".
A teoria descritivista dos nomes próprios é basicamente aceita por John Searle, que desenvolveu sua teoria pela primeira vez no contexto de uma teoria de atos da fala e, em seguida, em uma teoria mais geral da intencionalidade da mente , parte dessa teoria foi apresentada por Searle no livro Atos da fala No capítulo 7 de Atos de Fala, Searle conta a história básica e as questões associados com o que veio a ser chamada de teoria da descrição de nomes próprios. Ele apresenta um relato modificado de referência ao nome próprio, no contexto de sua consideração mais geral de referência como ato da fala , que ele argumenta é capaz de lidar com as problemas que surgiram para as versões iniciais de Fregee e Russell , e reter o poder explicativo dessas apresentações e ser capazes de solucionar certos enigmas sobre a referência. A teoria da descrição, tal como formulado por Frege e Russell, diz Searle, que elas caem em dois problemas .
Searle deseja na sua consideração manter as vantagens da teoria descritiva e ao mesmo tempo responder a dois problemas, expressando a teoria inteira no contexto de sua avaliação mais generalizada de referência como um ato de fala. Uma vez que a teoria descritiva de referência nome próprio sustenta que os nomes próprios têm significados (sentidos) de algum tipo , em oposição a Mill . A consideração de Mill cai em problemas ao longo de três linhas gerais, os quais são observados por ambos Searle e Kripke , e uma vez que a teoria descritiva Frege tem como consequência que uma sentença pode adiantar que a descrição do nome é analítica e assim necessariamente verdadeira , Searle começa por colocar a questão: “Há algum proposições onde o sujeito é um nome próprio e o predicado de uma expressão analítica descritiva”?'
Para Searle, os nomes próprios têm algum tipo de significado ou sentido, e este significado é descritivo e, ainda, exclusivamente de natureza descritiva. A fim de fazer justiça a esse fato, evitando os problemas de equivalência de definição e de diferentes oradores associando significados diferentes com o mesmo nome, Searle propõe uma "teoria de cluster" de significado para os nomes próprios.. Seale afirma que a sua explicação é capaz de explicar o fato de que diferentes oradores associarem diferentes descrições de identificação com o mesmo nome, e a objeção com base na equivalência de definição e analiticidade, a resposta de Searle para este problema em Os actos de fala e em Expressão e Significado: Estudos da teoria dos Atos da Fala .
A maior parte das críticas de Kripke direcionam especificamente a teoria descritivista de cluster de referência desenvolvida por Searle . A argumentação modal de Kripkee  é essencialmente a mesma que os argumentos que o próprio Searle considerou contra interpretar descrições de identificação como equivalentes de definição para ou como analiticamente contidos em nomes próprios.Uma vez que nomes próprios designam rigidamente e descrições definidas não fazem isso, os nomes próprios não podem substituir ou expressar descrições definidas, porque aí eles não seriam designadores rígidoss81 . Assim, "Moisés não existe" e "O homem que conduziu os israelitas do Egito não existe" podem ser materialmente equivalente no mundo real, mas elas não são sinônimos, e por isso a segunda não é uma análise da primeira que resolve o problema de referência aparente para um indivíduo não-existente . Kripke cria contraexemplos à Teoria de cluster para mostrar em cada caso que alguma condição de que a teoria de cluster de Searle mantém é necessário para referência de sucesso, na verdade não é  . Kripke afirma que o cluster da pessoa comum incluirá pouco mais do que descrições como "o famoso físico", mas não é o suficiente para identificar ninguém, e entanto quando o indivíduo usa o nome 'Feynman' ou 'Einstein', ele consegue se referir ao objeto . No início da segunda Palestra , Kripke formula uma lista de quatro condições para a característica bem-sucedida de referência do ponto de vista do cluster  . Portanto, de acordo com as condições de Kripke, não é uma condição necessária para a referência de sucesso que o usuário da língua acredite que ele é capaz de identificar de forma única o que ele está se referindo ao fazer uso de descrições, nem é uma condição necessária para a referência de sucesso que o próprio cluster realmente especifique um único indivíduo de forma descritiva Segundo, Kripke afirma que o conjunto de descrições associadas com um nome poderia especificar exclusivamente um indivíduo, e ainda o nome poderia se referir a algum outro indivíduo 88 . Por exemplo, suponha que o verdadeiro autor das provas de incompletude não foi Gödel, mas alguém chamado 'Schmidt'. Assim, todas as descrições do cluster de quem fala não são verdadeiras sobre Gödel, mas a respeito de Schmidt. Kripke afirma que, em tal caso, o orador está na verdade se referindo a Gödel quando ele pronuncia 'Gödel' e não para Schmidt , portanto, uma das quatro condições não é uma condição suficiente para uma referência de sucesso na parte em que ela não pode ser satisfeita em casos em que o nome não faz referência ao indivíduo que o nome tenta referir.
Uma objeção final oferecida por Kripke é dirigida a quase todas as condições, basicamente, é que a maior parte ou toda a informação descritiva associada com um dado nome pode ser falsa sobre o indivíduo, e ainda sim uma utilização do nome pode ter sucesso em referir .
Um exemplo é Jonas. Kripke afirma que, enquanto os estudiosos da Bíblia acreditam que houve realmente uma pessoa chamada 'Jonas', eles também acreditam que todos os fatos particulares contados sobre ele em "O Livro de Jonas" são de fato falsos . Aqui está um caso em que o apoio descritivo que um orador pode ter para o nome não, não é só verdade para Jonas, mas não é verdade sobre ninguém e apesar disso, Kripke argumenta, quando nós expressamos 'Jonas', estamos nos referindo a Jonas, então a teoria descrição deve ser falsa.
Searle responde à ambas as linhas de críticas iniciadas por Kripke no Capítulo 9 de "Intencionalidade” .
Searle responde ao argumento modal de Kripke ao longo de duas linhas de defesa que sugerem que ele está disposto a aceitar a teoria de descrição como uma teoria do significado dos nomes, mas negam que esta deve ter as consequências que Kripke sugere. Em primeiro lugar, tendo que Kripke esta sustentando que não há proposições analíticas que contêm um nome próprio como sujeito e uma descrição definida como o predicado , Searle aponta que existem descrições definidas que são rígidas no sentido de Kripke . É a segunda resposta de Searle que é sua mais fundamental e o que parece ser a melhor resposta para argumentos modais para uma teoria descritivista da referência de nomes próprios .
Searle aponta que é perfeitamente possível afirmar que um conjunto de descrições é o significado de um nome próprio, evitando a objeção de Kripke, porque:
"Qualquer descrição definida de qualquer forma pode ser tratada como um designador rígido indexando-o ao mundo real. Eu posso, por um simples decreto, decidir usar a expressão "O inventor dos óculos bifocais" de tal forma que essa descrição se refere à pessoa real que inventou os óculos bifocais e continua a referir-se a essa mesma pessoa em qualquer mundo possível, mesmo em um mundo possível em que ele não inventou os óculos bifocais “John Searle Intentionality: An Essay in the Philosophy of mind.
Kripke sugeriu que tal visão que iria bloquear a estratégia geral descritivista para resolver os quebra-cabeças tradicionais100 que fazem referência nome próprio. No entanto, a resposta principal de Searle à crítica modal de Kripke da teoria descritivista parece ser que o conjunto de descrições associados para um nome pode simplesmente ser indexado ao mundo real , tendo nessa consideração pensada por Searle em virtude do funcionamento da rede e cenário, enquanto, ao mesmo tempo, na natureza auto-reflexiva inicial dos atos intencionais na determinação das condições de satisfação para eventos intencionais do uso de um nome ou expressão 
Para o contraexemplo sobre o "fracasso de singularidade" de Kripke envolvendo clusteres associados do orador normal para nomes como "Einstein" ou "Feynman" . Searle nos diz (a) que, mesmo nestes casos o orador terá um conjunto mais abrangente de identificar as descrições que Kripke sugere, e (b) que, em tais casos, os oradores podem ter sucesso ao se referir exclusivamente a um indivíduo parasitariamente, incluindo entre suas descrições identificar algo como "O famoso físico referido como e conhecido pela maioria dos membros da minha comunidade linguística como 'Einstein'“. Searle argumenta que não há nada de errado com um orador parasitariamente referindo-se a 'Einstein' ou 'Feynman "ou qualquer outra pessoa. Para o exemplo de Kripke do "erro/falsidade descritiva" envolvendo Gödel e Schmidt , Searle responde que quem está sendo referido dependerá do conteúdo intencional do locutor, e, mais geralmente, na intenção do falante em um determinado caso .
Para a objeção de Kripke baseada em "falsidade descritiva holística", Searle responde que, mesmo em um caso como o de 'Jonas', se houver referência, ela ocorre em virtude da satisfação da maioria ou de uma ponderação da maior parte das descrições em um associado cluster. O cluster pode incluir descrições como "o homem de quem se falsamente foi escrito no Antigo Testamento que ele passou um tempo no estômago de uma baleia", no caso de Jonas . A resposta de Searle à alegação de que a referência pode ocorrer mesmo se o indivíduo em questão não satisfaz nenhum das descrições identificadores associados é simplesmente que isso é falso, e qualquer pessoa que acredite nisso, ao contrário, simplesmente falhou em ver o associado cluster (conteúdo intencional + condições de satisfação) com o cuidado necessário .
Muitos filósofos concordam que o relato de Searle explica os quebra-cabeças tradicionais para nomes próprios que incluem declarações de identidade informativos e declarações de existência. A teoria de Searle para responder às críticas contra ele por teóricos causais, especialmente os de Saul Kripke, em geral, explica-se bem e é capaz de responder às críticas de Kripke . A principal razão para isso, diz Searle, é a identificação das condições de satisfação para um enunciado de um nome próprio na intencionalidade do locutor com o cluster associado de identificar descrições para aquele nome .
Searle, finalmente, coloca que a sua teoria da referência para nomes110 será subordinada a uma avaliação da sua teoria mais ampla da mente, juntamente com o fato de que a sua teoria faz justiça à tese intuitivamente plausível de que, para se referir a algo que um indivíduo deve ser capaz de identificar aquela coisa, por isso da a teoria uma boa dose de plausibilidade.
Filosofia da Mente
Intencionalidade
John Searle aceita definição básica de Franz Brentano da intencionalidade como a propriedade lógica de um ser sobre um objeto, embora ele geralmente substitua estados de relações para os objetos. Searle toma emprestado da noção de Frege de Sinn, e defende que cada estado intencional tem um conteúdo intencional que determina as condições de satisfação para o estado. É através do conteúdo intencional que o estado intencional está ligada ao seu objeto: Estados intencionais "representam" apenas no sentido de que na linguagem pode ser dito que "representa". Cada estado também possui um modo psicológico que determina a direção do ajuste: Da mente para o mundo ou o mundo à mente. Na crença, por exemplo, a validade (neste caso a verdade) é alcançada quando a mente corresponde ao mundo, em um desejo (ou seja, bem sucedido) se válida quando o mundo vir a corresponder à representação do desejo na mente
As condições de satisfação para muitos estados Intencionais incluem uma cláusula auto-referencial, a percepção, por exemplo, tem como parte de seu significado que ela seja um estado causado pelo objeto representado por nela. Este aspecto do conteúdo intencional permanece mesmo em experiências alucinatórias em que as condições de satisfação não são cumpridas.
Searle define "Intencionalidade", como o poder da mente de representar, a cerca de, ou em se colocar diante de propriedades e estados das coisas no mundo. A natureza da intencionalidade é uma parte muito importante das discussões de Searle sobre a "Filosofia da Mente". Searle enfatiza que o significado da palavra "intencionalidade, (A parte da mente direcionada para/de/sobre os objetos e as relações no mundo independente da mente) não deve ser confundida com o significado da palavra 'intencionalidade" (uma propriedade lógica de algumas frases que não passam no teste de "extensionalidade") Também, Intencionalidade não é o mesmo que intenção. Uma intenção, assim como crenças e desejos, é um tipo de “estado intencional”.
Segundo Searle, a mente humana possui um funcionamento consciente e intencional, e estas são suas características principais. A teoria de Searle está direcionada a explicar apenas a Intencionalidade humana em geral. E apesar de o autor não fazer considerações sobre outros animais, isso não quer dizer que ele pense que tal fenômeno, entendido como biológico e natural, se restringe apenas à espécie humana, que outros animais não tenham estados mentais e que alguns deles sejam intencionais. Searle mesmo considera que outros animais devam possuir tais características, por exemplo, alguns animais superiores com estruturas cerebrais mais semelhantes entre as do homem. Na teoria de Searle se distinguem quatro relações entre os estados intencionais e realidade: Linguagem para objeto; estado intencional para o objeto; estado intencional à infraestrutura psicológica, estados intencionais para a infraestruturas neurológicas. Essa quarta relação apresenta sua base em um tipo especial de causalidade.
Linguagem se relaciona com a realidade, na abordagem de Searle, por oradores para relacioná-la em seus atos de fala. Os agentes da fala usam sentenças para representar o que significa aquilo que eles desejam expressar. A compreensão do significado linguístico, portanto, depende da análise pessoal dos estados mentais intencionais, e assim a relação entre linguagem e realidade se reduz a um caso especial da relação da mente para o com mundo. Estados mentais intencionais, de acordo com Searle, não se relacionam com a realidade do mundo da mesma maneira que as palavras o fazem. Nós não podemos usar uma crença, por exemplo, de uma forma em vez de outra, pelo seu conteúdo intencional determina as suas próprias condições de satisfação. Dizer o contrário nos obrigaria a inventar uma regressão infinita de agentes misteriosos, os homúnculos, cada um usando os estados de representação do menor homúnculos abaixo para significar algo . As condições de satisfação da crença devem parar em algum lugar. diz Searle, e para ele, elas param no primeiro estado intencional, sustentando que o conteúdo intencional da crença logicamente e intrinsecamente determina as suas próprias condições de satisfação.119 A crença de que a lua é vermelha não pode ser usada para significar a crença de que o gato é preto, apesar de a frase "a lua é vermelha" poderia ser usada para significar "gato é preto", se optamos por usá-la dessa maneira. Por outro lado, os estados intencionais, Searle afirma, são apenas empiricamente ligadas às experiências psicológicas que as incorporam. Percepção, por exemplo, envolve "experiências perceptivas", embora elas seja devem ser distinguidas dos objetos que causam as experiências. Na noção de Searle de um estado intencional "um objeto é referido em virtude de satisfazer um conteúdo intencional", implicando que não é em virtude da forma de percepção de um estado intencional que se refere a um objeto. Searle apresenta duas relações diferentes. Há a relação entre o conteúdo intencional e realidade no sentido do objeto pretendido, e este vínculo da mente com a realidade é, de acordo com Searle, lógico. Há também a ligação do conteúdo à realidade no sentido de o estado psicológico em que é realizado, e isso, Searle afirma, é contingente. Searle pensa que a sua visão de Intencionalidade foi capaz de mostrar uma relação lógica e intencional entre o estado psicológico e objeto intencionado.
Searle versus Dretske
Fred Dretske oferece vários níveis de crítica acerca da teoria da intencionalidade de Searle. Especialmente, Dretske faz críticas sobre questões e reivindicações de Searle relativas à intencionalidade de percepção. Ele apresentou quatro críticas em seu ensaio "A intencionalidade da Percepção" . Em suas críticas de 1 a 3, Dretske apresenta o argumento de que a visão não é intencional e que a natureza da experiência de "ver" descreve uma relação puramente causal, não adulterada. Defendo que essas três críticas, Dretske aceita que elas não derrotam a alegação de Searle que a percepção é intencional. Na crítica número 4, Dretske argumenta que a intencionalidade não é intrínseca à experiência. Nesta matéria as intuições de Dretske demonstram que a percepção não é intrinsecamente intencional.
Em sua primeira crítica Dretske argumenta que a tematicidade de uma fotografia é uma questão puramente de causalidade. Partindo do princípio de que isso é verdade de fotos, Dretske pergunta por que isso não é o caso também para experiências visuais
O argumento de Dretske é o seguinte: o que faz uma fotografia de uma fotografia de uma determinada coisa é que a fotografia é que ela é causada por um objeto, no início de uma adequada (ou seja, não desviante) cadeia causal. Se isso funciona para fotos por que não funciona para experiências perceptivas?
Searle diz que o argumento não funciona para fotos, pois, segundo Searle, as fotos tem uma intencionalidade derivada. As fotografias, como todas as outras representações (externas), derivam sua intencionalidade. A imagem é uma imagem de um objeto só porque existem entidades que pensam sobre as imagens como tendo conteúdo intencionais. A imagem em si não diz respeito a qualquer coisa. A imagem é simplesmente um artefato no mundo. Na melhor das hipóteses, é apenas uma parte de alguma situação que se pode experimentar. Pode-se separar uma foto de suas condições de satisfação. Conexão causal não é equivalente a tematicidade. Uma pintura de uma casa é diferente de uma imagem casa. Isso é especialmente verdade em arte. Um artista pode tirar uma foto em que a relação causal é uma coisa e o conteúdo representacional é algo completamente diferente.
Intencionalidade, argumenta Searle, é necessária para a experiência de ter o tipo de conteúdo que é preciso, a fim do agente interagir com sucesso (consciente) com o seu ambiente. A causalidade não é um substituto suficiente para intencionalidade. Isso ocorre porque a causalidade em si mesma, não transmite conteúdo130 . Sem conteúdo intencional nossas experiências não poderiam significar nada. Se nossas experiências não significassem algo para nós, então nós não poderíamos (conscientemente) interagir com o nosso meio ambiente. Nós conscientemente interagimos com o nosso meio ambiente. Assim, a relação entre um observador humano normal e o seu meio ambiente não pode ser uma não adulterada corrente causa .
Em sua segunda crítica, Dretske acusa que Searle muda a questão da percepção de "o que é preciso para ver Sally, para o que é preciso para pensar que vê Sally." . Ele acredita que Searle faz isso a fim de proporcionar algum trabalho para a intencionalidade. Estas são duas questões distintas. A primeira diz respeito o que é necessário para ter uma experiência visual de Sally. A segunda, o que é necessário para perceber Sally. Searle define claramente "percepção" e "ver" como termos de sucesso. Além disso, para Searle se vê que alguém perceba. Para ver (e perceber) é ter uma verídica experiência visual . A "experiência visual" de Searle é equivalente ao uso de Dretske de "ver" na citação acima. Para Searle, quando Dretske fala sobre "ver Sally" ele está falando sobre ter uma experiência visual de Sally. A "experiência visual" de Searle é tudo o que Dretske acredita "ver" deve ser. Uma experiência que ocorre independentemente da compreensão e é, em geral, o resultado de uma relação causal adequada. É a experiência bruta134 .
Na terceira crítica, Dretske ataca o movimento feito por Searle na pergunta: Quais são as condições de verdade para a declaração "S vê x."? Searle faz esta pergunta e chega à conclusão de que deveria ter as mesmas condições de verdade que "S vê que (x)". Dretske abomina esse movimento. Sua alegação é que 'vê' não é equivalente a 'vê isso'. Ele retorna a uma análise de ver como uma relação causal dois termos. Dretske acredita que os critérios para o que alguém vê é completamente determinado pelo fato objetivo. Ele argumenta que a capacidade de substituir Idênticos um para o outro em declarações como "S vê x" sugere que a declaração é intencional.
"Não é sugerir que ... S vê x (como X matou S) é extensional porque descreve uma relação causal entre S e X? - S vê x porque x afeta S da forma correta, e se x afeta S dessa forma, y afeta S, dessa forma, se, de fato, x é y. Dretske, pg. 164, “The Intentionality of Perception”
O argumento de Searle é que o nosso tratamento de 'S vê x' como uma declaração extensional é errado. Ele afirma que declarações como 'S vê x' são intencional.
Dretske quer responder a esta questão, apelando para o fato objetivo da questão. Se S vê x e x é y, então S vê y. Isto porque "ver", Dretske afirma, representa uma relação objetiva de dois termos. "Ver" é um termo que usamos para representar a relação entre S e x (ou y.)
Searle quer definir "ver" como algo que alguém faz. "S vê x" descreve uma realização de S. Quando S vê x, S tem uma experiência de x. Além disso S tem uma experiência de x que não é compartilhada com mais ninguém. Isto sugere, diz Seale, que a relação descrita por "ver" não é uma relação objetiva. Ver algo é ter uma experiência subjetiva daquela coisa. Searle define "experiência" como um evento mental consciente136 . Na afirmação de Dretske acima, ele diz que "S vê x" é o mesmo tipo de relação como "X matou S". Este não é o caso. S pode ser morta por x sem estar consciente disso. Para dizer que S vê x é dizer que S teve um evento consciente mental de x, ou seja, S não pode ver x, sem estar consciente de x.
Dretske em outros lugares; por exemplo, em "Naturalizing the Mind" (1995), "Knowledge and the Flow of Information" (1999), alegou que alguém pode ter experiências sem ter consciência deles. Ele afirma que, se um sistema tem a capacidade de visão e capacidade cognitiva, então este sistema pode perceber, sem cognição.
Searle diz que a afirmação de que "um ser humano tem uma experiência sem estar consciente disso", para ele, isso é uma contradição. Ele diz que "certamente pode ter coisas acontecem a mim que eu não estou ciente, mas isso não é equivalente a ter uma experiência". Dretske confunde relação causal com a experiência. Muitas relações causais não se qualificam como experiência. Se S vê (está alerta de) uma formiga e, em seguida pisa nela, S está causalmente relacionada com a morte da formiga e tem a experiência de pisar em uma formiga. Se, no entanto, S pisa em uma formiga sem perceber, então S está causalmente relacionada com a morte da formiga, mas S não tem a experiência de pisar em uma formiga. Experiência é sempre do ponto de vista da primeira pessoa137 . "Ver" é, certamente, usado dessa forma na linguagem. No entanto, ao abordar a questão de como um observador humano normal conceitualmente relaciona com o mundo 138 esse uso de "ver" é inadequado e infrutífero.
Searle acredita que quando é verdadeiro dizer que X vê y deve ser verdade que X vê que isso ou aquilo é a coisa. Ele está convencido de que existe uma diferença importante entre "Eu vejo que" e "X vê que y". Declarações em primeira pessoa são intencionais com relação à possibilidade de substituição, considerando que as declarações de terceira pessoa são extensionais. Searle descreve esta situação dizendo que quando nos relatos de terceira pessoa de ver, usamos o "vê que" a forma estamos comprometidos a relatar o conteúdo da percepção, como ele parecia para o observador, de uma forma que não estamos empenhados em relatar o conteúdo no uso de uma frase de substantivo simples como o objeto direto de "ver".
Searle versus Dennett
Pode-se dizer que tanto Searle como Daniel Dennett são ambos naturalistas. Ou seja, os dois admitem que a consciência é um fenômeno biológico do homem. Mas Searle discorda de Dennett quanto à existência ou não dos qualia .
Para Searle estes fenômenos existem e são provados pela experiência interna tanto minha como de outras pessoas. Ou seja, qualia141são dados que fazem parte de nosso mundo e que precisam ser explicados por uma teoria da consciência. Ele argumenta que Dennett “nega a existência dos qualia", considerando-os como uma aparência que temos de nossa experiência.142 Mas tudo pode ser explicado para Dennett levando-se em conta a relação dos "inputs" de estímulos que temos (como no caso do beliscão na pele) e nossas disposições para o comportamento (disposições reativas). Entre os "inputs" e as disposições de comportamento há “processos discriminatórios” responsáveis, na visão de Dennett, por respondermos de modos diferentes com
relação às pressões do meio e para distinguirmos o vermelho do verde etc., entretanto, tal estado de coisas no homem não é diferente daquilo que poderia acontecer em outro meio físico capaz de realizar os mesmos processos discriminatórios:
“É tudo uma questão de fenômenos de terceira pessoa: inputs de estímulos, estados discriminativos e disposições reativas. Tudo isso pode andar em conjunto porque, na verdade, nossos cérebros são uma espécie de computador e a consciência é um certo tipo de "software", uma “máquina virtual” em nosso cérebro. " Paul Churchland Matéria e consciência: uma introdução contemporânea à filosofia da mente.143
Nesta caracterização da teoria de Dennett por parte de Searle, a posição de Dennett é de um funcionalista. Há dentro dessa corrente a opinião de que existe uma analogia entre o funcionamento do cérebro humano e o funcionamento dos computadores144 . Searle caracteriza esta concepção mais forte de funcionalismo de “Inteligência Artificial Forte”. Na visão de Searle, quem defende esta teoria acredita que um número indefinido de tipos de computadores, se pudessem realizar as mesmas funções que desenvolve a inteligência humana, poderiam ser conceituados como tendo uma “mente” no mesmo sentido que o homem. “Antes, qualquer sistema que seja capaz de manipular símbolos físicos de modo correto é capaz de inteligência no mesmo sentido literal que a inteligência humana dos seres humanos”
Como poderíamos diferenciar um ser humano de um zumbi inconsciente?
Searle se baseia nas experiências que nós temos em nosso senso comum sobre os nossos próprios estados mentais. Assim, entendemos sua defesa dos qualia e que tem como pressuposto que somos seres autoconscientes e intencionais. A rejeição disso, segundo Searle, implicaria que não poderíamos diferenciar um ser humano de um zumbi inconsciente. É essa a consequência que ele retira em relação à teoria de Dennett. Mas, ainda sim, Dennett acredita não está totalmente afetado pelas críticas de Searle. Afinal de contas, como poderemos realmente diferenciar um humano de um zumbi que se comportar como um humano? Isso só seria possível, diz Dennett, se soubéssemos apriori o que são os qualia que caracterizam a atividade humana e soubéssemos quando um agente tem de fato qualia e quando não. Mas é este pressuposto de que realmente sabemos o que é um qual e quando uma pessoa está sendo experienciado que parece que Searle admite sem dar uma explicação a posteriori. Searle deveria, segundo Dennett, defender sua teoria com bases argumentativas mais firmes do que o exemplo do beliscão e de recorrer a pressupostos sobre a realidade dos qualia que estão fundados simplesmente na tradição do pensamento humano. São justamente estes pressupostos que precisam ser provados.
A crítica de Searle a Dennett  a todo funcionalismo que rege a concepção da "IA Forte", é que a própria concepção do que nós temos acerca do que seja um programa de computador o torna incompatível, conceitualmente falando, a aplicá-lo aos seres humanos. Os programas de computadores, por definição, atuam de forma puramente sintática e formal, através de procedimentos adequados com símbolos como zeros e uns. Mas estes símbolos não tem significado para o computador. Mas não é assim o que acontece quando temos experiência mental de algo. Por exemplo, quando estou conscientemente pensando sobre minha próxima viagem ou se tenho desejo de comer algo, meus pensamentos possuem efetivamente um “conteúdo”, eles se referem a algo além deles e, portanto, tem um significado:
"Se os meus pensamentos são acerca de alguma coisa, então as séries devem ter um significado, que faz que os pensamentos sejam a propósito dessas coisas. Numa palavra, a mente tem mais do que uma sintaxe, possui também uma semântica. A razão por que nenhum programa de computador pode alguma vez ser uma mente é simplesmente porque um programa de computador é apenas sintático, e as mentes são mais do que sintáticas. As mentes são semânticas, no sentido de que possuem mais do que uma estrutura formal, têm um conteúdo." John Searle Mente, Cérebro e Ciência
O argumento que Searle utiliza para diferenciar as atividades sintáticas do computador e as atividades que envolvem a semântica que caracterizam os processos mentais dos homens é o argumento do “Quarto chinês”.
Quarto chinês
Searle se notabilizou ao propor o argumento hipotético do 'Quarto chinês', no qual critica a visão da possibilidade de duplicação de estados mentais intencionais e consciência através da Inteligência Artificial Forte.
Se você pode seguir em frente com uma conversa inteligente usando pedaços de papéis que escorregam por debaixo de uma porta, isso implicaria que alguém ou algo do outro lado entende o que você está dizendo?
O argumento de Searle contra a Inteligência Artificial Forte é parte de uma ampla posição em relação ao problema mente-corpo. A tese central do IA Forte é que os processos criados por um computador são idênticas aos feitos pelo cérebro, e, portanto, podemos deduzir que se o cérebro gera consciência, também o computador deve capaz ser consciente. Para refutar essa posição, Searle desenvolve o seguinte experimento mental.
Searle pede para imaginar mos um sistema onde uma pessoa que não entende o chinês é colocada em um quarto fechado com apenas uma fenda aberta para o exterior na China. O sistema: um ser humano, que compreende apenas o português, equipado com um livro de regras escrito em português e diversas pilhas de papel, sendo algumas em branco e outras com inscrições indecifráveis (o ser humano é a CPU,150 o livro de regras o programa e o papel em branco e os com inscrições indecifráveis são o dispositivo de armazenamento e o banco de dados). Através de uma abertura são dados papéis com símbolos chineses para esse indivíduo nesse quarto. Em português, (ou qualquer que seja sua língua materna) é dito para ser posta para fora uma resposta (de acordo com as regras do manual que foi lhe entregue previamente) pela fenda. No manual só aparecem os símbolos chineses indecifráveis de entrada e os correspondentes símbolos de saída. Assim, o indivíduo pode localizar os símbolos que são entregues e pode devolver papéis com símbolos diferentes de acordo com as regras do manual . Eventualmente, as instruções farão com que os símbolos sejam transcritos em uma folha de papel pela pessoa que será repassada para o exterior do quarto.
Do exterior, os chineses percebem que o "quarto chinês" (o sistema que está recebendo a entrada de dados na forma de instruções em chinês e está gerando respostas corretas em chinês) da respostas que são, sem dúvida, “inteligentes”. Os chineses que estão fora, concluem que o quarto sabe chinês . Como os chineses receberam respostas satisfatórias, o quarto passa no Teste de Turing
Searle aponta que nem o livro de regras, nem a pessoa e ou papel entendem chinês. Então, não está acontecendo nenhuma compreensão ou entendimento da língua chinesa. Por conseguinte, de acordo com Searle, a execução do programa corretamente não gera necessariamente compreensão.
Em A Redescoberta da Mente, Searle vai além da tese de que a semântica não é intrínseca a sintaxe. Ele acrescenta que, além disso, a sintaxe também não é intrínseca à física. Ele diz que somos nós, seres com mente, que atribuímos sintaxe a sistemas que, em si mesmos, são meramente físicos. Neste sentido, um computador tem poderes causais exclusivamente devido às suas propriedades físicas, como qualquer outra coisa. A sintaxe não tem papel explicativo algum, porque ela sequer está lá, intrinsecamente. Deste modo, nem dá para falar em "sintaxe implementada". Tudo o que há são "sinucas causais", complexas ou não154 . Nada está efetivamente "lendo" ou "seguindo" regras formais, em parte alguma. Só há interação causal física, nada mais. Evidentemente, diz Searle, alguma sinuca causal será responsável, de um modo que não compreendemos, por fazer surgir a consciência. Mas a explicação real só poderá ser diretamente física "...nem que, pra isso, revolucionemos a física". Searle conclui que as noções de sintaxe, de sistemas formais, de algoritmo, não têm a menor condição de explicar a mente - ao contrário, tais noções só existem se, antes, existir uma mente que as atribua a algum "sistema" físico.
Searle acredita que o mesmo acontece com um computador. Eles, o computador e/ou IA Forte, lidam com diferentes códigos de processamento de análise sintática que nada têm a ver com a compreensão semântica do conteúdo. Obviamente, o conceito de "Intencionalidade" está no fundo do argumento do quarto chinês contra a Inteligência Artificial Forte . Houve um número bastante grande de discussões e objeções ao quarto chinês, mas nenhuma abalou intuição fundamental do argumento .
Filosofia da Sociedade
Também o interesse de Searle em instituições, atos e relações sociais, como o seu interesse na filosofia da mente, foi uma consequência natural de seu estudo da linguagem. Atos da fala, afinal, são entidades lingüísticas integradas nos ambientes sociais. Searle foi, assim, atraído por questões relativas à constituição e criação de instituições sociais e para a estruturação formal e lógica necessária para existência, sobrevivência e manutenção da sociedade.
Fatos institucionais
Searle afirma que entender o que é uma instituição significa conhecer os principais mecanismos de organização social como o por exemplo dinheiro e presidente. Uma nota de cem reais não é doce como uma barra de chocolate, ou saborosa e refrescante como uma coca cola; no entanto, as pessoas aceitam facilmente trocar muitas barras de chocolate ou refrigerantes por uma nota de cem reais . Analogamente, “a palavra cachorro não se parece com um cachorro, não anda como um cachorro, nem late como um cachorro, mas mesmo assim significa cachorro" .
Como é possível, do ponto de vista lógico, que desenhos em folhas de papel possam ser utilizados de modo a alterar tão fortemente a realidade social, seja por meio da otimização das relações econômicas, seja tornando possível a comunicação? De acordo com Searle, isso é possível porque os seres humanos possuem uma capacidade mental de atribuir para certos objetos um status, ou seja, uma qualidade que não pode ser encontrada nas características físicas intrínsecas do objeto, mas que só existe na mente das pessoas, ou, nos termos dele, que são relativas aos observadores:
“Por exemplo, o pedaço de papel na minha mão é dinheiro americano, e como tal, é dependente do observador: É somente dinheiro, porque achamos que é dinheiro. ”John Searle Liberdade e neurobiologia (2007).
Além disso, quando as pessoas atribuem esse status para certo objeto, este passa a ser apto a cumprir um tipo especial de função, chamada de função de status, a qual ele não poderia cumprir, tão somente, em virtude de suas características físicas:
" Os pedaços de papel são capazes de desempenhar a sua função não em virtude de sua estrutura física, mas em virtude do fato de que temos um determinado conjunto de atitudes em relação a eles. Nós reconhecemos que eles têm um certo status, contamo-los como dinheiro, e, consequentemente, estes pedaços de papel são capazes de desempenhar a sua função em virtude de nossa aceitação deles como tendo esse status. " John Searle Liberdade e neurobiologia (2007).
A atribuição desse status é compartilhada intersubjetivamente por meio da intencionalidade coletiva, termo este que já foi utilizado por Durkheim, por exemplo, mas que Searle afirma não ter sido utilizado com o intuito de estabelecer uma diferença entre fatos sociais e fatos institucionais, o que, todavia, assumiria importância para o estudo do dinheiro, uma vez que este, segundo o filósofo americano, é um fato institucional, não podendo ser compreendido apenas por meio do conceito de intencionalidade coletiva, ou de cooperação social .
Intencionalidade coletiva e Regras institucionais
Formas de cooperação social e intencionalidade coletiva, afirma o filósofo, podem ser encontradas, inclusive, entre animais que cooperam para caçar uma presa . No entanto, embora a realização de fatos sociais não seja uma exclusividade dos humanos, a existência de uma diferença entre fatos sociais e fatos institucionais poderia ser vislumbrada na afirmação de Aristóteles que conceituou o homem como “zoon politicon"
" Com estas distinções em mente, vamos nos voltar para a realidade social e política. Aristóteles disse a famosa frase de que o homem é um animal social. Mas a mesma expressão na política ", zoon politikon", às vezes é traduzida como "animal político": "O homem é um animal político". Independentemente da erudição aristotélica, que a ambiguidade deve ser interessante para nós. Existem muitos animais sociais, mas o homem é o único animal político. Portanto, uma forma de pôr a nossa questão é perguntar: O que tem de ser adicionado ao fato de que somos animais sociais para obter o fato de que somos animais políticos? E mais geralmente: O que tem de ser adicionado a realidade social para chegar ao caso particular da realidade política? " John Searle Liberdade e neurobiologia (2007).
De acordo com Searle, a peça que estaria faltando seria na diferença entre as regras regulativas, que simplesmente regulam comportamentos preexistentes, e as regras constitutivas que não apenas regulam , mas criam a possibilidade ou definem novas formas de comportamento. Portanto, Searle diz que um pedaço de papel é dinheiro porque as pessoas atribuem um status para ele de forma coletiva, consoante determinadas regras que tomam a seguinte forma:
"Um objeto (X) no contexto (C) conta como (Y), ou, mais precisamente, um pedaço de papel (X) num contexto de regras institucionais (Y) possui o status de dinheiro. " John Searle Liberdade e neurobiologia (2007).
Por exemplo, imaginando-se uma falsificação perfeita de uma nota de 10 Reais, que não possa ser diferenciada fisico-quimicamente de uma nota verdadeira, o simples fato dessa não ter sido fabricada de acordo com as regras constitutivas, impede que essa nota seja dinheiro, uma vez que apenas as notas fabricadas de acordo com as regras constitutivas recebem a atribuição coletiva do status de dinheiro, ou seja, estão aptas a cumprir uma função de status, transformando-se num fato institucional. Em síntese, para Searle, ser dinheiro é cumprir uma função que surge a partir da atribuição de um status, o qual é compartilhado de forma coletiva e atribuído segundo regras constitutivas. Searle leva essa abordagem até as últimas consequências, aplicando-a para explicar a ontologia de todos os fatos institucionais, incluindo a da própria linguagem:
"Tal e tal pessoa que preencha certas condições é contada como a nossa presidente, esse ou aquele tipo de objeto conta como dinheiro em nossa sociedade, e mais importante de tudo, conforme veremos, uma sequência desses ou daqueles de sons ou marcas contam como uma frase, e, de fato, contam como um ato de fala na nossa língua. " John Searle Liberdade e neurobiologia (2007).
Searle reconhece que dizer que os fatos institucionais se diferenciam dos fatos sociais pela existência de regras constitutivas requer explicar a origem dessas regras constitutivas. Dizer que as regras constitutivas poderiam ser fatos institucionais seria uma argumentação circular que levaria a um regresso “ad infinitum”, uma vez que se as regras constitutivas são fatos institucionais, então deve haver alguma instituição com regras constitutivas para criar regras constitutivas, que, por sua vez, precisariam de outra instituição com regras constitutivas que criassem regras constitutivas para criar regras constitutivas, “e assim por diante”. A solução proposta por Searle para resolver o paradoxo é que nos casos primitivos, não é necessário estabelecer um procedimento e criar uma instituição para determinar que as pessoas atribuam status para certos objetos ou pessoas, uma vez que isso pode acontecer de forma natural, ainda que as pessoas não estejam totalmente conscientes do que elas estão fazendo. Ou seja, elas podem, por exemplo, seguir as ordens de uma pessoa, ou chamá-la para arbitrar seus conflitos, ou, ainda, pedir conselhos a ela sem possuir termos como “chefe”, “juiz”, ou “conselheiro”, ou alguma regra imposta determinando que certa pessoa (X) num contexto (Y) conta com “chefe”, “juiz”, ou “conselheiro”. Com efeito, as pessoas podem agir dessa forma porque consideram certa pessoa como sábia, justa, ou como tendo um talento para liderar. Contudo, diz Searle, quando essa prática se torna regularizada e estabelecida, então ela se transforma numa regra constitutiva.
Racionalidade
No livro Racionalidade em Ação, Searle argumenta que as noções de padrão de racionalidade são gravemente falhas. John Searle estabelece seis reivindicações daquilo que ele chama o modelo clássico de racionalidade e mostra porque elas são falsas.
Ações racionais nem sempre são causados ​​por crenças e desejos.
Racionalidade não é primariamente uma questão de seguir as regras.
Não há nenhuma separada faculdade de racionalidade.
Fraqueza da vontade é uma consequência natural da lacuna no processo de executar uma ação que deve ser pressuposta.
Há razões independentes de desejo para se executar uma ação.
Razões incoerentes para uma ação são comuns e inevitáveis.
De acordo com o que ele chama de Modelo Clássico, a racionalidade foi inspirada no pensamento de Hume que diz que "A razão é e deve ser uma escrava das paixões".  Searle diz que esta é a maneira de Hume de dizer que não há razões independente de desejo para agir, "uma reivindicação que está no coração do modelo clássico".
Seria plausível ter desejos que não buscam seu próprio bem-estar? Não seria irracional agir contra o seu próprio bem-estar?
A teoria da decisão é vista como algo como um trilho de trem: Você embarca em um ponto com suas crenças e desejos e as regras da racionalidade lhe compelem o caminho todo até uma conclusão no outro ponto. Searle dúvida que esta imagem de racionalidade possui uma generalidade. Ele ressalta que os seus axiomas exige que alguém que valorizava 50 centavos e valorizava sua vida poderia, em algumas probabilidades, apostar a sua vida para 50 centavos. A teoria da decisão prega que"É sempre racional para maximizar a utilidade". Mas, afirma Searle, que não há chances de que poderiam nos inclinar a apostar a vida de nossos filhos na possibilidade de ganhar qualquer premio de loteria. Searle insiste que ele nunca faria isso e acredita que isto é perfeitamente racional.
Ele aponta outro fato estranho no modelo clássico da racionalidade humana, o fato de ser perfeitamente possível tomar uma decisão racional sobre algo que o indivíduo acredita possível ser feito; e concluir que essa ação é realmente aquilo que ele deseja fazer, mas quando chega o momento de ser feita ação, o indivíduo não faz a ação que ele acredita e deseja fazer!
Searle mostra, por exemplo, que ao contrário da visão filosófica tradicional, fraqueza de vontade é muito comum. A "fraqueza da vontade" tem sido um enigma filosófico por que, diz Searle, as ações racionais humanas necessitam intencionalidade além das crenças e desejos que o indivíduo tem em sua mente. Ele aponta o absurdo da afirmação de que a tomada de decisão racional começa sempre a partir de um conjunto consistente de desejos.
A tomada de uma decisão racional, argumenta ele, é muitas vezes sobre a escolha entre as razões conflitantes para a ação. De fato, o ser humano se distingue pela sua capacidade de ser racionalmente motivado por razões independente de desejos para executar a ação. Searle apresenta uma teoria alternativa sobre o papel da racionalidade no pensamento e ação.
Um ponto central da teoria de Searle é que somente as ações irracionais são diretamente causados ​​por crenças e desejos, por exemplo, as ações de uma pessoa sob o domínio de uma obsessão psicológica, um vício ou dependência física. Na maioria dos casos de ação racional, existe uma "lacuna" entre o desejo motivador e tomada de decisão real. O nome tradicional para essa lacuna é "liberdade de escolha". De acordo com Searle, toda atividade racional pressupõe livre-arbítrio. Para a racionalidade só é possível onde se tem uma noção de escolha entre várias opções racionais, bem como opções irracionais.
Para esse teórico, não há nenhuma ação que não seja intencional. A intencionalidade prontifica e dá suporte à ação. Desse ponto de vista, todo estado mental tem uma forma primitiva de funcionar que envolve uma crença e um desejo.
A crença consiste na ideia construída a partir da experiência; portanto, está relacionada ao já vivenciado. Já o desejo é formado a partir da crença, pois é o fato de conhecer algo ou de ter consciência de sua existência que permite desejá-lo. Searle discute a ação pela intencionalidade e pelo sentido.
Livre-arbítrio
Searle diz que a questão primordial na Filosofia contemporânea é essa: "Como podemos enquadrar a concepção de nós mesmos como agentes conscientes, criadores de significados, livres, racionais, etc., com um universo que consiste inteiramente de não pensantes, sem sentido, sem liberdade, não racionais, partículas físicas? " 
Searle se propõe modificar o método tradicional de analise do problema do livre-arbítrio recorrendo à análise conceptual, para remover algumas confusões filosóficas, de modo que o que fique do problema seja essencialmente um problema de saber como funciona o cérebro humano.
Para Searle podemos tratar o problema do Livre-arbítrio como, pelo menos em parte, um problema neurobiológico mediante a prossecução da seguinte pergunta: “Como o nosso cérebro precisa trabalhar em ordem para que nós tenhamos livre-arbítrio, e que substituições por "x" e "y" na seguinte declaração, S, tornaria S verdade? (S) Se meu cérebro está funcionando na forma x em um momento em que eu faço a ação A e y for verdade, então eu livremente fiz a ação A (ou exercitei o livre-arbítrio em fazer A).
Deste tipo de abordagem criada por Searle seguem-se duas consequências filosoficamente relevantes. O compatibilismo deixa de ser uma solução. Para Searle:
"A tese do determinismo assevera que todas as ações são precedidas por condições causais suficientes que as determinam. A tese do livre-arbítrio assevera que algumas ações não são precedidas por condições causais suficientes. Definido desta maneira, o livre-arbítrio é a negação do determinismo."John Searle"A Filosofia e os Factos Básicos" – (primeira parte do livro - "O Livre-Arbítrio como Problema na Neurobiologia183 ")
O espaço conceptual do compatibilismo é assim inexistente. Igualmente, o problema da responsabilidade moral não é objeto da reflexão de Searle acerca do livre-arbítrio. Se o livre-arbítrio é real tem de existir um determinado conjunto de características do cérebro que concretize neurobiologicamente tal livre-arbítrio. Ou seja, a questão é de saber se o estado neurológico total do cérebro de uma pessoa antes da decisão ser feita é causalmente suficiente para determinar o estado neurológico total do seu cérebro depois que a decisão foi tomada. Se sim, então não existe livre-arbítrio. Caso contrário, e dadas certas suposições acerca da consciência, existe livre-arbítrio.
Searle considera que a maior parte dos neurobiólogos defendem a hipótese a qual o livre arbítrio é algo que experienciamos, mas que efetivamente é uma ilusão . Deste modo, a nossa experiência da liberdade não desempenha nenhum papel explicativo ou causal no nosso comportamento. Essa hipótese representa assim o triunfo do determinismo.
Searle acredita que a hipótese de que existe livre-arbítrio, substitui um mistério (livre-arbítrio) por três (livre arbítrio, consciência e indeterminismo quântico).
Searle afirma que "(...) é muito tentador e até irresistível pensar que a explicação da experiência consciente do livre-arbítrio deve ser uma manifestação do indeterminismo quântico para o nível de tomada de decisão consciente e racional" . Searle aceita relutantemente que a hipótese neurológica determinista é mais adequada à nossa visão global da biologia e mais provável, dado ser mais simples (simplex sigillum veri) .
Contudo, essa a hipótese nos dá um resultado incrível. Ele afirma que se os cientistas nos mostrassem que a tomada de decisão livre e racional não existe, seria impossível se aceitar livre e racionalmente que livre-arbítrio não existe. O caráter paradoxal da afirmação é óbvio, e portanto, Searle conclui que o problema do livre-arbítrio continua naturalmente em aberto.
Naturalismo Biológico
"Naturalismo biológico" é o nome dado por Searle a sua abordagem ao que é tradicionalmente chamado o problema mente-corpo. Searle o apresenta como uma teoria da consciência, mas em geral, prefere afirmar que "O naturalismo biológico é uma teoria de estados mentais".
Desde que passou a se dedicar à filosofia da mente, Searle defende a sua solução para o problema mente-corpo por ele chamada de "naturalismo biológico" . Essa concepção positiva da mente (oferecida como alternativa após a negação do modelo computacional e demais concepções fisicalistas da mente) se baseia nas teses de que os fenômenos mentais, cujo mais importante é a consciência, são causados por processos cerebrais no micronível e realizados no sistema cerebral no macronível . Dessa simultânea causação e realização (para ele algo muito comum na natureza) resultaria que os fenômenos mentais são fenômenos biológicos, como a digestão, a mitose ou a secreção de enzimas . Mas há uma quarta tese que desempenha um papel fundamental na teoria de Searle, a tese de que os fenômenos mentais têm um modo de existência subjetivo, na medida em que eles só existem quando são vivenciados por um sujeito. Justamente em virtude desse modo de existência subjetivo, os fenômenos mentais conscientes seriam ontologicamente irredutíveis a fenômenos objetivos (como os processos cerebrais). Temos assim quatro teses básicas do naturalismo biológico de Searle:
A consciência é causada por processos cerebrais.
A consciência é uma propriedade sistêmica do cérebro.
A consciência é um fenômeno biológico.
A consciência é ontologicamente irredutível a fenômenos objetivos.
Searle nega o dualismo cartesiano, a ideia de que a mente é uma forma separada de substância do corpo, pois isso contraria toda a nossa compreensão da física, e ao contrário de Descartes, ele não traz Deus para ajudar a resolver o problema. Searle também acredita, contrariamente a posição cartesiana, que animais são conscientes .
Pode ser tentador ver a teoria de Searle como uma espécie de dualismo de propriedades, uma vez que, na opinião dele, as propriedades mentais de uma pessoa são categoricamente diferentes das suas micro-propriedades físicas. As micro-propriedades físicas têm "ontologia de terceira pessoa", enquanto as propriedades mentais "ontologia de primeira pessoa". A Microestrutura física é acessível objetivamente por qualquer número de pessoas, como quando diversos cirurgiões cerebrais inspecionam hemisférios cerebrais de um paciente. Mas a dor, o desejo ou crença são acessíveis subjetivamente pela pessoa que tem a dor, o desejo ou crença, e ninguém mais tem esse modo de acesso ao estado mental. Searle diz que o epifenomenalismo não pode responder como pode a consciência ser causalmente redutível aos estados neurobiológicos do cérebro e ainda assim ser ontologicamente irredutível a eles. Somente quando os epifenomenalistas entenderem que "A consciência é um fenômeno de primeira pessoa causado por processos físicos no cérebro" que eles poderão entender que isso é mais que possível e é um fenômeno real. Em defesa de seu argumento Searle afirma que o epifenomenalismo decorre de três erros:
A pressuposição das categorias dualistas.
A pressuposição de que toda causalidade deve seguir o modelo de objetos físicos empurrando outros objetos físicos.
A pressuposição de que, para qualquer nível de causalidade, se podemos fornecer um relato do funcionamento desse nível em termos das microestruturas mais básicas, então o nível inicial era causalmente irreal, epifenomênico – ineficaz.
Searle argumenta contra o primeiro erro que, se observamos a nossa história
biológica podemos ver que a consciência humana e animal se mostraram essenciais para evolução de nossos organismos.
A noção de causalidade deve ficar presa somente à noção de transferência de forças entre corpos?
Ela não se apresentou como um resíduo sem nenhuma causação, sem ela não teríamos conseguido chegar até onde chegamos. A pressuposição que o epifenomenalismo toma como base é a forma "Humana" do modelo-padrão de causalidade, o modelo de "bola de bilhar". Para Searle, esse modelo-padrão não leva-nos a uma boa compreensão de como a consciência pode causar efeitos em um mundo físico. Ela apenas obscurece e confunde a relação de causalidade entre a consciência e o mundo. Essa relação se mostra ainda mais confusa se a adicionarmos ao dualismo, que apresenta a mente como uma entidade ectoplasmica não material.
O conceito de causalidade Newton precisou ser reformulado para poder acomodar as explicações de diversos eventos físicos, como por ex., o efeito da gravidade sobre os corpos. Foi necessário incluir o conceito de relatividade do luz, de campo de força e de malha de tempo/espaço. E com isso não mais se pensou na gravidade como uma questão de fios invisíveis que prendiam os planetas uns aos outros. Da mesma forma, no segundo erro empírico, a noção de causalidade não deve ficar presa somente à noção de transferência de forças entre corpos (empurra-puxa). Assim ela se amplia e nos ajuda a compreender melhor a eficácia causal da consciência, ao postular que não é necessário que haja um objeto físico ligando a mente e o cérebro.
A objeção de Searle ao terceiro erro é feita através do fato de que poder “fornecer um relato causal em nível inferior não implica que os níveis superiores não sejam reais, apenas mostra descrições diferentes em níveis diferentes de um determinado sistema causal”. Ou seja:
Nossa aceitação provisória da eficácia causal da consciência não é ameaçada se assinalarmos que qualquer explicação no nível da consciência tem como base fenômenos físicos mais fundamentais, porque é verdade em relação a qualquer sistema físico que as explicações causais de níveis superiores têm como base explicações microfísicas mais fundamentais nos níveis inferiores. John Searle ”Mente, linguagem e sociedade: Filosofia no mundo real (página 63)"
Searle não pretende provar que o epifenomenalismo é logicamente falso, mas apenas que é empiricamente falso. Ele tenta “eliminar as razões para pensar que o epifenomenalismo tem de ser verdadeiro”.
Uma descrição física da consciência poderia explicar seu caráter essencialmente subjetivo?
Searle rejeita o epifenomenalismo, o dualismo de propriedades e qualquer tipo de dualismo, a alternativa tradicional para o monismo, alegando que a distinção é um erro. Ele rejeita as ideias de que porque a mente não é objetivamente visível, não cai sob a rubrica do fisicalismo.
Searle argumenta que o problema mente-corpo tradicional tem uma "solução simples": os fenômenos mentais são causados ​​por processos biológicos no cérebro e são neles mesmos características do cérebro. Mais precisamente, os estados mentais são macro-propriedades de neurônios (nível superior do cérebro) em muito, da mesma maneira que a solidez de um corpo é a macro-propriedade das moléculas (nível inferior da matéria). No entanto, Searle também sustenta que o mental é "real e ontologicamente irredutível" ao físico, uma visão que decorre do seu entendimento da situação e da natureza da consciência. Searle acredita que a consciência é essencial para a mente; subjetividade é essencial para a consciência, e não puramente objetiva. A descrição física da consciência nunca poderia captar ou explicar seu caráter essencialmente subjetivo. No entanto, Searle defende que irredutibilidade é um resultado "trivial" de nossas "práticas de definição" e é totalmente compatível com sua teoria.203
Searle se qualifica como um racionalista biológico, sendo sua obra sobre a relação entre a mente e o corpo, uma crítica, a modularidade da mente e da linguagem do pensamento de Jerry Fodor, ao Eliminativismo, ao Externalismo apresentado nos trabalhos de Hilary Putnam e Tyler Burge, e a outras correntes da Filosofia da mente.
O exemplo filosófico do "quarto chinês" é uma forte crítica ao Funcionalismo, Comportamentalismo e principalmente, à IA Forte. Pela teoria do Naturalismo Biológico, Searle costuma ser objeto de muitas críticas em seu campo de atuação e reflexão, notadamente por pensadores como David Chalmers e Daniel Dennett.
Problema mente-corpo
Para Searle, a confusão sobre objetividade e subjetividade é apenas a ponta do iceberg do problema mente-corpo tradicional. Embora, ele acredita, que o ideal seria que os cientistas estariam melhor se eles simplesmente ignoraram esse problema, pois em sua opinião, os cientistas são vítimas tanto das tradições filosóficas como qualquer outra pessoa, e muitos deles, como muitos filósofos, ainda estão sob o domínio das categorias tradicionais da mente e corpo, mental e físico, dualismo e materialismo, etc.206 A forma mais simples de se colocar o problema corpo-mente, diz Searle, é descobrir qual exatamente é a relação da consciência com o cérebro? Para ele há duas partes para este problema, a parte filosófica e uma parte científica. Ele acredita que teoria do Naturalismo Biológico da uma solução simples para a parte filosófica. Ele afirma que a solução é consistente com tudo o que sabemos sobre a biologia e sobre como o mundo funciona.
Consciência e outros tipos de fenômenos mentais são causados ​​por processos neurobiológicos no cérebro, e eles são realizados na estrutura do cérebro. Na teoria do Naturalismo biológico, a mente consciente é causada por processos cerebrais e ela é em si mesma uma característica do nível superior do cérebro.
Qual exatamente é a relação da alma com o corpo?
Searle nos pede para observarmos duas características da solução filosófica.
Primeiro, a relação dos mecanismos do cérebro para a consciência é uma das causas. Processos no cérebro causam as nossas experiências conscientes.
Searle propõe que a melhor maneira de mostrar como algo é possível é mostrar como efetivamente existe. As dores por exemplo, são concretamente causadas por processos neurofisiológicos que ocorrem no tálamo e no córtex sensorial. Durante muito tempo, inúmeros biológicos e filósofos pensaram que era impossível explicar a existência da vida em bases puramente biológicas. Julgavam que além dos processos biológicos deveria ser necessário algum outro elemento, deve postular-se algum élan vital para emprestar a vida ao que, de outro modo, era matéria morta e inerte. Houve anteriormente uma disputa entre o vitalismo e o mecanicismo, porém hoje não é levado a sério. Hoje conseguimos compreender melhor o caráter biológico dos processos que são características dos organismos vivos. Logo que compreendemos como as características típicas dos seres vivos têm uma explicação biológica, já não constitui para nós mistério algum que a matéria deva ser viva. Ainda não entendemos completamente os processos, mas compreendemos o seu caráter geral, e que há certas atividades eletro químicas específicas que ocorrem entre os neurônios ou módulos neuronais e talvez outras características do cérebro, esses processam a consciência e causam as nossas experiências conscientes208 .
As experiências conscientes são sobre algo ou alguma coisa. O dualistas questionam como podem os átomos no vazio ter intencionalidade? Como podem eles ser acerca de alguma coisa?
Sobre este problema Searle da o exemplo da sede, que certos tipos de sede são causados no hipotálamo por sequencias de explosão nervosas. A sede é causada por uma série de acontecimentos no sistema nervoso central. A sede é um estado intencional. As experiências visuais e auditivas, as sensações táteis, a fome, a sede, e o desejo sexual, são todos causados por processos cerebrais e realizam-se na estrutura do cérebro e são todos fenômenos intencionais.
Searle lida com o problema de como inserimos nós a subjetividade dos estados mentais no interior de uma concepção objetiva do mundo real falando que a existência da subjetividade é um fato que pode ser estudado da forma científica objetiva como qualquer outro fato. Assim a explicação da subjetividade dos estados mentais, visto que é justamente um fato óbvio que a evolução biológica produziu certos tipo de sistemas biológico, a saber, os cérebros humanos e de certos animais, que têm características subjetivas. O estado presente de consciência de uma pessoa é uma característica do cérebro dela, mas os seus aspectos conscientes são a ela acessíveis de um modo que não são acessíveis a outra pessoa. A existência da subjetividade é um fato objetivo da biologia. Searle comenta que é um erro definir “ciência” em termos de certas características existentes. Se o fato da subjetividade vai contra certa definição de “ciência”, então é a definição e não o fato que teremos de abandonar.
Para o problema da causação mental: explicar como é que os eventos mentais podem causar eventos físicos. Como é que, por exemplo, algo “imponderável” e “etéreo”, como o pensamento pode suscitar uma ação? A resposta apresentada por Searle é que os pensamentos não são imponderáveis e etéreos. Quando temos um pensamento, está efetivamente a ocorrer à atividade cerebral. A atividade cerebral causa movimentos corporais mediante processos fisiológicos. Porque os estados mentais são característicos do cérebro, têm dois níveis de descrição – um nível superior em termos mentais e um nível inferior em termos fisiológicos. Os mesmos poderes causais do sistema podem descrever-se em qualquer um dos dois níveis. Segundo a concepção para Searle, a mente e o corpo interagem, mas não são duas coisas diferentes, visto que os fenômenos mentais são justamente características do cérebro. Uma maneira de caracterizar esta posição é vê-la como uma asserção do fisicalismo e do mentalismo.
Suponhamos que nós definimos o “fisicalismo ingênuo” como a concepção de que tudo o que existe no Mundo são partículas físicas com as suas propriedades e relações. O poder do modelo físico da realidade é tão grande que é difícil ver como podemos contestar seriamente o fisicalismo ingênuo. E definamos, o “mentalismo ingênuo” como a concepção de que os fenômenos mentais existem realmente. Existem, de fato, estados mentais; alguns deles são conscientes; muitos têm intencionalidade; todos têm subjetividade; e muitos funcionam causalmente na determinação dos eventos físicos no Mundo. O mentalismo e o fisicalismo ingênuos são perfeitamente consistentes entre si. Na realidade, tanto quanto sabemos algo sobre o modo como o mundo funciona, eles não só são consistentes, mas são ambos verdadeiros.
Em segundo lugar, estes processos não nos força a qualquer tipo de dualismo, porque a forma da causação é de baixo para cima, e o efeito resultante é simplesmente uma característica do nível superior do cérebro em si, não uma substância separada. A consciência não é como algum fluido esguichado para fora pelo cérebro. Um estado de consciência é sim um estado de que o cérebro está dentro. Assim como a água pode estar no estado líquido ou sólido, sem que liquidez e solidez sejam substâncias separadas, do mesmo modo a consciência é um estado que o cérebro está, sem ser a consciência uma substância separada.
Consciência é um fenômeno causado por processos físicos no cérebro?
Searle oferece a solução filosófica sem usar nenhuma das categorias tradicionais de "dualismo", "monismo”, "fisicalismo" ou "materialismo", e todas as outras categorias. Ele acredita que essas categorias são obsoletas e afirma que se aceitarmos essas categorias, então temos o seguinte quadro: Temos uma escolha entre dualismo e do materialismo.
De acordo com o dualismo, a consciência e outros fenômenos mentais existem em um reino ontológico diferente de todo o ordinário mundo material da física, química e biologia. E de acordo com o materialismo a consciência não existe. Searle conclui que nem o materialismo ou o dualismo como tradicionalmente interpretados, nos permite obter uma resposta à pergunta: Qual exatamente é a relação da consciência com o cérebro?
Dualismo diz que existem dois tipos de fenômenos no mundo, o mental e o físico; materialismo diz que há apenas um, o material. Dualismo acaba com a possibilidade de uma bifurcação da realidade em duas categorias distintas e, portanto, torna impossível explicar a relação entre o mental e o físico. Mas o materialismo acaba por negando a existência de qualquer irredutível qualitativo estado mental subjetivo de sensibilidade ou consciência. Em suma, o dualismo torna o problema insolúvel; materialismo simplesmente nega a existência de qualquer fenômeno para ser estudado, e, portanto, nega qualquer problema.
Consciência
Até muito recentemente, Searle acredita que a maioria dos neurobiólogos não consideravam a consciência como um tema adequado para a investigação científica. Ele diz que esta relutância foi baseada, principalmente no erro filosófico de supor que a subjetividade da consciência coloca este assunto além do alcance de uma ciência objetiva. Para Searle, uma vez que os neurobiólogos entenderem que a consciência é um fenômeno biológico como qualquer outro, então ele pode ser investigado neurobiologicamente. Ele diz, que a Consciência é totalmente causada por processos neurobiológicos, e é realizada nas estruturas cerebrais, e o traço essencial da consciência de que precisa ser explicado é a qualitativa unificada subjetividade210 .
Consciência, portanto, difere de outros fenômenos biológicos em que ele tem uma ontologia subjetiva ou primeira pessoa, mas esta ontologia subjetiva, aponta Searle, não nos impede de ter uma ciência epistemologicamente objetiva da Consciência.
Como é a experiência das minúsculas micro-consciências?
Duas abordagens comuns à consciência são aqueles que (1) adotam o “modelo de bloco de construção” do tipo “LEGO”, segundo a qual qualquer campo consciente é feita de suas diversas partes, e do (2) “modelo do campo unificado”, segundo a qual devemos tentar explicar o caráter unificado de estados subjetivos de consciência.  Searle destas duas abordagens, da preferência para a teoria do campo unificado sobre a do modelo de bloco de construção.
A maioria dos teóricos que criticam Searle, tacitamente adotam a teoria do modelo de bloco de construção da consciência.
A ideia que eles apresentam para contrapor a Searle, é que qualquer campo consciente é feito de suas diversas partes: a experiência visual de vermelho, o sabor do café, a sensação da brisa entrando pela janela. Para eles, parece que, se pudéssemos descobrir o que faz mesmo um bloco de construção consciente teríamos a chave para toda a estrutura. Se pudéssemos, por exemplo, descobrir os segredos da consciência visual, que nos daria a chave para todas as outras modalidades. Esta visão é defendida por Crick & Kock  , e é também apoiada por Bartels & Zek.
Crick e Koch, em 1998, investigaram apenas indivíduos que já estavam conscientes. Searle duvida dos resultados do modo que foi investigado por Crick e Koch perguntando: “ Como é possível para o agente ser consciente no todo? ” Ele coloca que dado que uma pessoa é consciente, sua consciência será modificada por ter uma experiência visual, mas não se segue que a consciência é composta de vários blocos de construção dos quais a experiência visual é apenas um desses blocos.
Searle propõem que existem, no mínimo, duas hipóteses possíveis para resolver o enigma da Consciência:
A teoria bloco de construção: O campo consciente é composto de pequenos componentes que se combinam para formar o campo. Desta forma, encontrar o correlato neural da consciência (CNC) de causalidade para qualquer componente é encontrar um elemento que é causalmente “necessário e suficiente” para que a experiência consciente. Assim, se for encontrado somente um bloco de construção, é um passo importante para quebrar o problema da consciência.
A ‘’teoria do campo unificado’’, aonde as experiências conscientes vêm em campos unificada. Para se ter uma experiência visual, uma pessoa tem que antes de ter a experiência já estar consciente e esta experiência é uma modificação do campo. Nem os campos-cegos (cegueira neurocerebral - “Blindsight” , nem a rivalidade binocular e nem mesmo a visão normal pode nos dar um CNC causal genuíno porque só a pessoa já consciente pode ter essas experiências.
A visão normal não pode nos dar um CNC causal genuíno porque só a pessoa já consciente pode ter experiências visuais conscientes.
Searle sugere que há outra maneira de olhar para questões que implicam em outra abordagem de pesquisa. Imagine que você acorda de um sono sem sonhos em um quarto completamente escuro. Até agora você não tem nenhum fluxo coerente de pensamento e quase nenhum estímulo perceptual. Salvo a pressão de seu corpo na cama e sentido as cobertas em cima de seu corpo, você não está recebendo estímulo exterior sensorial algum. Apesar de tudo, deve haver uma diferença em seu cérebro entre o estado de vigília mínimo você está agora e se o estado de inconsciência que estavam antes. Essa diferença é o CNC que Seale acredita que deveríamos estar procurando. Este estado de vigília é a base da consciência ou cenário intencional. Só um cérebro que já está acima do limite da consciência que já tem um campo consciente, pode ter uma experiência visual de vermelho, afirma Searle.
Além disso na teoria de estágios múltiplos de Andreas Bartels e Semir Zeki, por que as micro consciências são todas capazes de ter uma existência separada e independente, Searle diz que não está claro que isso significa.
Eu sei como é para mim a minha experiência atual campo consciente, mas o que experimenta todas as minúsculas micro-consciências? E o que seria como para cada uma delas existir separadamente? 
A ideia de que deve-se investigar a consciência como um campo unificado não é nova e remonta a pelo menos tanto como doutrina de Kant da unidade transcendental da percepção. Em neurobiologia, Searle diz não ter encontrado nenhum autor contemporâneo que aponta uma distinção clara entre o que ele chama a teoria bloco de construção e a teoria do campo unificado, mas, pelo menos, duas linhas de pesquisa contemporâneas são consistentes com a abordagem que Seale procura.
Uma no trabalho de 1998 de Rodolfo R. Llinás e seus colegas  e a outra nos estudos de Gerald Edelman, Giulio Tononi e O. Sporns.
Na visão de Llinas e seus colegas não devemos pensar na consciência como produzida por estímulos sensoriais, mas sim como um estado funcional de grandes partes do cérebro, principalmente do sistema tálamo cortical, e devemos pensar em entradas sensoriais servindo para modular uma consciência pré-existente ao invés de criar a consciência novamente. Para Llinas a consciência é um estado "intrínseco" do cérebro, e não uma resposta a entradas de estímulo sensorial. Os sonhos são de especial interesse para ele, porque num sonho o cérebro está consciente, mas incapaz de perceber o mundo externo através de estímulos sensoriais. Ele acredita que o CNC é uma atividade oscilatória sincronizada no sistema tálamo-cortical.
Quando entendermos como o cérebro cria consciência, poderemos construir então artefatos conscientes?
Tononi e Edelman avançaram, em 1998, a que eles chamam de hipótese de núcleo dinâmico. Eles dão muito interesse ao fato de que a consciência tem duas propriedades notáveis, a unidade e a diferenciação extrema ou complexidade dentro de qualquer campo consciente. Isto sugere a eles que não devemos olhar para a consciência em um tipo específico de tipo neuronal, mas sim nas atividades de grandes populações neuronais. Eles buscam o CNC para a unidade da consciência na integração rápida que é conseguido através dos mecanismos de reentrada do sistema tálamo-cortical. Eles acham que o disparo em síncrona entre as regiões cortical entre o córtex cerebral e o tálamo é um indicador indireto deste agrupamento funcional. A combinação de agrupamento funcional, para Tononi e Edelman, juntamente com a diferenciação é o que eles apresentam como a ‘hipótese do núcleo dinâmico da consciência’. Eles acreditam que um processo unificado de alta complexidade neural constitui um núcleo dinâmico.
Searle define a consciência como um fenômeno biológico como qualquer outro. Ela consiste em estados qualitativos e subjetivos interiores de perceber, sentir e pensar. Sua característica essencial é a subjetividade qualitativa unificada. Estados conscientes são causados ​​por processos neurobiológicos no cérebro, e eles são formados na estrutura do cérebro. A investigação de consciência tem sido dificultada por duas visões equivocadas: a primeira, de que a consciência é apenas um tipo especial de programa de computador, um "software" especial que roda no "hardware" do cérebro, e segunda que a consciência era apenas uma questão de processamento de informações. O tipo certo de processamento de informações suficiente para garantir a consciência.
Esses pontos de vista ditam que o cérebro não importa. Qualquer hardware que pode carregar o programa "consciência" ou processar a informação faria tão bem quanto faz o cérebro. Searle acredita, ao contrário, que a compreensão da natureza da consciência crucialmente requer a compreensão de como os processos cerebrais causam e criam a consciência. Searle prediz que “(...) quando nós entendermos como o cérebro faz isto [criar consciência], poderemos construir artefatos conscientes usando alguns materiais não biológicos que duplicam, e não apenas simulam os poderes causais que têm cérebros. Mas primeiro precisamos entender como o cérebro fazer isto." 
Realismo Externo
"Realismo" é um notoriamente um termo vago e ambíguo. No entanto, Searle nos oferece uma breve e descrição razoavelmente clara de seu "realismo externo", que ele atenua como a visão de que "Há um mundo real que existe independentemente de nós ". O realismo externo Searleano apresentado em Mind, Language, and Society: Philosophy in the Real World (Mente, linguagem e sociedade: Filosofia no mundo real) é a tese de que "existe um mundo real que é totalmente independente dos seres humanos e do que eles pensam ou dizem sobre ele"225 ou, alternativamente, que "há um caminho que as coisas são independentemente de nossas representações" . Isto é, o mundo é independente das nossas representações, percepções, mentes, linguagem, ou qualquer esquemas conceituais. Dada essa caracterização de Realismo Externo (RE), é fácil ver porque Searle declara incompatível com o "idealismo", um termo "que serve para todos" que Searle usa para as visões, segundo a qual "a realidade é, em última análise [. . .] Constituída por nossas percepções e outros tipos de representações “. Consequentemente, Searle insiste em que George Berkeley,David Hume, Kant e Hegel são todos inimigos jurados do (RE), assim como também uma série de filósofos recentes (Hilary Putnam,Nelson Goodman, Richard Rorty, Thomas Kuhn, Jacques Derrida, etc.) para quem o mundo não é encontrado como realmente é, pois o mundo é formado por linguagens, paradigmas, categorias ou esquemas conceituais.
Seria a realidade constituída por nossas percepções e outros tipos de representações?
Quanto à realidade, Searle nomeia seu ponto de vista chamando-o “realismo externo”. Esse termo indica a concepção de que existe um mundo real, independente dos seres humanos (das mentes em geral, podendo ser de animais) e indica a diferenciação de outros realismos, como o realismo matemático, o realismo ético, etc.
Quanto ao conhecimento, Searle aceita a ‘teoria da verdade como correspondência’, ou seja, se o que o agente afirma corresponde (ou se ajusta) com o modo como as coisas são no mundo exterior, então, é verdadeira, se não corresponde, é falsa. Assim, todos os elementos da tabela periódica são reais objetivamente, bem como as coisas naturais do mundo também o são, no sentido de que todos eles independem de nós, seres humanos para existir. Alguns exemplos: o ar, os planetas, as bactérias, as moléculas, etc.. Há, porém, outros fenômenos (ontológicos) que dependem dos seres humanos, como: os nomes das coisas que existem independente de nós, a bolsa de valores, a internet, os carros, o jogo de xadrez, etc., pois todos eles dependem da consciência humana. Intrinsecamente ligado ao realismo direto ao mundo externo é a teoria referencial do pensamento e da linguagem, e a teoria da verdade como correspondência. Os antirrealistas, afirma Searle, raramente dizem abertamente que não existe um mundo “absolutamente, objetivamente e totalmente independente de nós”. Alguns o fazem dizendo que o chamado mundo real é uma “interpretação social”.
Porém, Searle acredita que o comum é evitar a discussão e fazer um ataque às posições-padrão, de modo que o desafio justifique o posicionamento que eles defendem. Para atacar as posições-padrão o antirrealista deverá, segundo Searle, enfrentar a seguinte estrutura lógica:
Suponhamos que o realismo externo seja verdade. Nesse caso, existe um mundo real, independente de nós e de nossos interesses.
Se existe um mundo real, então existe um modo como o mundo realmente é. Existe uma maneira objetiva como as coisas são no mundo.
Se existe uma maneira como as coisas realmente são, então deveríamos ser capazes de dizer como são.
Se podemos dizer como as coisas são, então aquilo que dizemos é objetivamente verdadeiro ou falso dependendo de nosso êxito ou fracasso em dizer como são.
Portanto, (C) Somos justificados em aceitar o realismo externo (RE).
Porque o argumento principal é formalmente válido, a única questão é saber se suas premissas são verdadeiras. Searle salienta que se há um problema com relação à verdade como correspondência (proposta 4), então deve haver um problema com a proposição de que existe um mundo real (proposta 1). Mas é difícil, Searle aponta, que alguém negue efetivamente a “proposta 1”.
O que fundamenta essa premissa, (proposta 1), em última instância, é a convicção de que Searle de que o "realismo externo não é uma teoria", mas é preferivelmente uma posição-padrão, isto é, um pressuposto fundamental da investigação, o discurso que mantemos pré-reflexivamente e que se insere do chamado pano de fundo ("Background") do nosso pensamento e da linguagem. Embora Searle admite que nem todas as posições padrão são verdadeiras , ele afirma que há um pressuposto prima facie em prol delas, para que "qualquer abandono delas exige [...] um argumento convincente".E uma vez que permitem que aqueles que se opõem a uma posição-padrão deve assumir o ônus da prova, propõem Searle e aponta que estamos bem em nosso caminho para (proposta 1), desde que conceda (RE) é de fato uma posição-padrão.
Sobre (proposta 2), Searle esclarece que não está dizendo que a objeção epistemológica para (ER) é o único argumento contra ele. Pelo contrário: Searle discute uma série de argumentos de ações antirrealista, que ele rapidamente disseca e habilmente contra ataca.  O que Searle sublinha, no entanto, é que as considerações epistemológicas há muito tempo levou filósofos a descartarem o realismo direto tanto assim, em verdade, que ele se refere a acusação de que o realismo torna incompreensível realidade como o principal argumento contra (RE). Isso diretamente implica no ponto que esta segunda observação parece justa: a acusação de que o realismo coloca o mundo de forma permanente além de nosso alcance foi feito por antiquadas propostas idealistas como Berkeley, Kant, Fichte e Schopenhauer, e a acusação foi revivida por Rorty, Putnam e Goodman. À luz disto, (proposta 2) não é sem uma certa plausibilidade.
Para Searle, as motivações do antirrealismo têm origem histórica na tentativa de superação do ceticismo. As formas de idealismos afirmam que a realidade é constituída pelas nossas ideias, ela depende de nossas representações.
Para Searle, o que seduz no idealismo é a sua resposta ante o ceticismo, por exemplo: Como podemos saber, por mais prova que tenhamos, se existe um mundo independente de nossos pensamentos? A resposta idealista é que todo o mundo é criado pelas minhas representações, por isso, enquanto eu não estiver me contradizendo, permanece a aparência de realidade fenomenal. Desse modo, a resposta do idealismo para a dúvida cética é que a distância entre as minhas representações e o mundo exterior é eliminada. Se tudo é representação não há distância entre o sujeito e a realidade da qual possa encampar o ceticismo, assim, a realidade consiste em “aparência sistemática”. Apesar do ceticismo, Searle acredita que a principal motivação do antirrealismo é que ele “satisfaz um desejo básico de poder” (vontade de potência), pois aceitar que dependemos de uma realidade exterior a nós parece duro demais. Para Searle é errado representar o realismo como um ponto de vista, pois negar que exista uma maneira como as coisas são no mundo, independentemente de nossas representações, já seria um fato sobre como o mundo é, e pressuporia, portanto, o realismo.
Percepção
Eis uma questão antiga na filosofia da percepção: Aqui estou eu, olhando para a tela do meu computador. Presumivelmente, eu realmente estou vendo essa tela. Mesmo assim, eu poderia estar tendo uma experiência alucinatória exatamente como a que eu estou tendo agora sem qualquer coisa estar na minha frente. Então como pode a experiência que estou tendo realmente envolver consciência direta da tela?
Parece que a presença da tela não é essencial para a maneira como a experiência é. Tradicionalmente, esta questão foi utilizado para levantar preocupações céticas quanto a experiência perceptiva e motivar a tese de dados sensoriais, segundo a qual experiências perceptivas, mesmo as mais verídicas, estão diretamente ligadas a objetos mentais ou privados e apenas indiretamente conectados a seus objetos físicos.
Na filosofia da percepção, o que a Searle interessa é o que poderia ser chamado de "problema semântico" da experiência perceptiva. Trata-se do fato de que as experiências são dirigidas a objetos. Isto é o que Searle e outros filósofos chamam a intencionalidade da experiência.
O que faz com que seja o caso que é esta tela que você está experimentando visualmente que é o que aparece para você de tal e tal forma, tamanho e cor? O problema aqui é que não há nada na característica de sua experiência visual para distinguir esta tela de qualquer tela de outro computador que pareceria exatamente como ela. Se esta tela foi substituída instantaneamente por outra, você não iria e não podia dizer a diferença. Assim, a resposta de alguns filósofos para a questão de por que essa tela de computador é aquela que você está tendo a experiência é que ela é o que provoca (em uma maneira característica específica) a sua experiência. visual. Se tivesse sido outra tela em seu lugar, a outra tela teria sido o que você está experimentando. Se esta tela fora substituída por outra instantaneamente, a outra tela teria imediatamente tornar-se o que você está experimentando.
John Searle considera esta uma resposta indesejável. Não é tanto que a resposta está incorreta como que é dada a partir do "ponto de vista da terceira pessoa." É o tipo de resposta que seria dada à questão, o que faria uma fotografia de uma tela de computador uma fotografia desta tela? Nesse caso, uma direta resposta causal é claramente o caminho certo. Para ser a tela "na" fotografia, esta tela teria que ter refletido a luz para a lente da câmera e para o filme ser exposto, etc., etc. Se uma tela diferente foi aquela que fez isso, teria sido esta outra tela na imagem. Apelando para o análogo fato causal no caso da experiência visual "falha", segundo Searle, "para responder à pergunta de como este fato entra no conteúdo intencional". Searle chama isso de "pergunta interna de primeira pessoa".
Searle reconhece que, na percepção (e tátil) visual, estamos cientes de coisas particulares do mundo. Estamos cientes dessa caneta, não apenas que existe uma coisa de certo tipo. Quando ele vê um objeto, como sua caneta, ele diz que a experiência que ele tem "é diretamente do objeto". Ela não apenas "representa" o objeto, ela fornece acesso direto a ele . A experiência tem uma espécie de "imediatismo direto, e involuntário que não é compartilhada por uma crença que eu possa ter sobre o objeto em sua ausência". A questão, porém, é se a consideração, de Searle, do conteúdo da experiência perceptiva faz jus ao fato de que as experiências são dirigidas para coisas particulares.
Alston cita uma linha de argumentação que vai partir da premissa de que "a experiência alucinatória pode ser (subjetivamente ou qualitativamente) indistinguível da coisa real" à conclusão de que "não podemos considerá-la como algo intrínseco às experiências perceptivas que há uma percepção direta de objetos".Alston questiona no argumento, como pode um objeto ser apresentado a nós em uma experiência se uma experiência qualitativamente indistinguível não envolve a presença de qualquer objeto? Mesmo quando o objeto está lá, parece que ele não é essencial para a experiência, a experiência poderia ter sido apenas como é, sem o objeto estar lá.
Em contrapartida, parece que na experiência perceptiva normal estamos diretamente conscientes de objetos externos, eles aparecem para nós, eles estão presentes para nós. Portanto, temos um dilema apontado por J. J. Valberg Como pode uma experiência perceptiva ser uma percepção direta de um objeto se ele é indistinguível de uma alucinação possível? O quebra-cabeças de Valberg é que o objeto parece "potencialmente irrelevante". A questão para Searle é: É verdade realmente, então, que a caneta "apresenta-se" a nós? O suporte fenomenológico para a sua apresentação direta parece ser compensada por simples considerações causais, por exemplo, que a própria experiência da caneta poderia ser exatamente como é mesmo que os estados do cérebro subjacente a isso foram causados ​​por uma droga, um demônio, ou um cientista louco que tem um cérebro imerso numa cuba borbulhante  Searle, um internalista inveterado diz que ele "pode ​​ter exatamente isso [experiência], mesmo que seja uma alucinação, mesmo que a caneta não exista" Ele concorda com epistemólogos tradicionais que não há nada sobre o caráter de uma experiência perceptiva que se opõe à possibilidade de que ela não tenha o objeto ou a causa que parece ter. Mas isso cria um problema. Este problema provém da questão de Searle, “O que é isso sobre a experiência que exige que ela seja satisfeita pela presença desta caneta e não apenas por uma caneta com características tais e tais tipo-idêntica a essa caneta? ". John Searle aponta o problema de que a experiência exige que ela seja satisfeita pela presença da minha caneta e não apenas por uma caneta com idênticas características a essa minha caneta. Ele resolve o problema de como é que as nossas percepções são "de" objetos particulares no que ele chama de "problema da particularidade."
Problema da particularidade
Esta argumentação procura remediar quaisquer objeções à consideração de causação intencional de percepções proposta por ele. Searle argumenta que a causação intencional é apenas uma subespécie dentre uma vasta gama de causalidades. A noção de causalidade é difícil de definir, na sua integralidade. Porque todos nós percebemos e fazemos ações, no entanto, todos nós temos a experiência direta de "fazer algo acontecer," tais ideias são as razões para sua convicção que a teoria causal não vai resolver o "problema da particularidade" e, portanto, Intencionalidade, precisa ser revista.
John Searle tem a noção que a Teoria causal da percepção não consegue explicar como, no exemplo a seguir, todos esses fatos se tornam uma parte do conteúdo intencional. Searle prevê a "Problema da Particularidade" assim:
" O que é, sobre a experiência visual de Jones aqui na nossa Terra, que torna o caso de que ela só pode ser satisfeita por uma mulher em particular previamente identificada e não por alguma outra mulher que por acaso pode ser uma tipo-idêntica à aquela mulher, que Jones pode dizer a diferença ou não? "J. Searle 
Em outras palavras, a teoria causal deixa de explicar como é que Jones é capaz de ver uma mulher em particular previamente identificada. Parece que o problema existente aqui é simplesmente resolvido a partir de um ponto de vista da terceira pessoa ao invés de na perspectiva de Jones, a perspectiva de si mesmo. Searle procura avançar sua compreensão da percepção de Jones, perguntando: "sob que condição ele leva a si mesmo a perceber que Sally está na frente dele?" Ao invés de perguntar "sob quais condições é que, de fato, ele vê Sally seja por ele sabido ou não". Mudando a pergunta, ele parece apontar o que exatamente a teoria intencional causal não pode dar conta, o problema existe na crença de Jones de que Sally é Jane, apesar de que a sua percepção é causada por sua percepção de Sally.
Agora que ele tem uma compreensão de o que a teoria causal não pode explicar, John Searle apela para o conceito de Cenário e Rede. Ele afirma: O que está dentro da cabeça é perfeitamente suficiente para determinar a identidade de cada um dos nossos estados intencionais. As várias condições "causal" e "contextual" referidas pelos externalistas são inteiramente representada pela mente. No entanto, as condições de satisfação de cada estado intencional só são fixas relativamente ao "Cenário e a Rede", o que não é uma parte de cada estado intencional no entanto, é claro, o cenário e a rede são, todavia, partes da mente. 
Em outras palavras, é a "indexicalidade" de ambos e do cenário e da rede que nos permitem apontar um determinado objeto de percepção; "indexicalidade" caracteriza a percepção com as teorias que pressupõem uma forma independente de consideração da percepção. Porque agora somos capazes de reconhecer um objeto em particular como "aquele mesmo objeto", o "Problema da particularidade" está resolvido: "As condições de satisfação de cada experiência e cada memória após o encontro inicial com Sally não são apenas que essas experiência devem ser satisfeitas por uma mulher que satisfaça exatamente a descrição de Sally em termos gerais, mas que elas devem ser causadas pela mesma mulher que provocou outras experiências e memórias de Jones."
Um problema potencial criado por Kent Bach em Searle Contra o Mundo é que Searle não resolveu o realmente problema da particularidade aqui, ele só resolveu o problema para os casos de re-identificação.
Política
Na década de 1950, como estudante de graduação da Universidade de Wisconsin, Searle foi o secretário de "Estudantes contra Joseph McCarthy" (McCarthy era então o senador de Wisconsin).
Enquanto um professor em Berkeley, em 1964, juntou-se ao Movimento de Liberdade de Expressão "Free Speech Movement"  opostos as políticas da administração da universidade . Mais tarde, em 1969, ele tomou o partido do governo contra os estudantes sobre Parque do Povo (People's Park). Também em 1969, ele atuou como presidente do Comitê de Liberdade Acadêmica do Senado Acadêmico da Universidade da Califórnia. Ele foi o autor de "A Guerra no Campus: Um olhar solidário a Universidade em Agonia" (1971). O livro tentou investigar as causas por trás dos levantes universitários da época. Nele, Searle observa: "Eu tenho sido atacado por ambos pelo Comitê de Atividades Anti-Americanas e ... várias polemistas radicais ... Estilisticamente, os ataques são curiosamente similares. Ambos dependem fortemente de insinuação e conotações, e ambos a exibir um ódio. - quase se poderia mesmo dizer terror - de uma análise detalhada e dissecção de argumento". Ele afirma: ". [Minha mulher foi ameaçada de que eu (e outros membros da administração) poderia ser assassinado ou violentamente atacado." No ano 2000 na Espanha, Searle foi condecorado com o prêmio Jovellanos "Resistência e Liberdade".Esse prêmio é concedido as pessoas de qualquer parte do mundo que se distinguiram pela sua luta pela liberdade e direitos humanos.
Na década de 1980 Searle e sua esposa, Dagmar, uma advogada, era a dona de metade de uma propriedade contendo um conjunto de apartamentos com 17 unidades em Berkeley. As leis de Berkeley que controlavam o aluguel estavam causando ao casal a perder dinheiro todos os meses. Dagmar, a esposa de Searle, entrou com uma ação alegando que a lei de Berkeley, as leis de controle de aluguel eram muito favoráveis aos inquilinos e negavam aos senhorios seus direitos constitucionais. O tribunal decidiu a favor da família Searle. Este julgamento prevaleceu diante do recurso à Suprema Corte da Califórnia. Isso levou a Suprema Corte da Califórnia a derrubar a política de controle de aluguéis da cidade de Berkeley, Califórnia, em que veio a ser conhecida hoje em dia, como a "decisão Searle."  O governo da cidade alegou isso levou a um significativamente aumento em Berkeley nos “níveis do valor do aluguel."
Em um artigo de opinião escrito logo após 9/11, ele argumentou que os ataques foram parte de uma luta de longo prazo, cuja única solução era eliminar os governos que o terrorismo apoiado.